O Inferno fica na Noruega

23 de agosto de 2015 | Escrito por Filipe Teixeira | Autores convidados, Diário de viagem, Sem categoria

por Tammer Castro, de Tromso, Noruega.

Quem me conhece bem sabe que eu adoro viajar, seja a trabalho ou por diversão. Pra se ter uma ideia, segunda passada eu estava em Nova York a trabalho, e no sábado eu visitei um lugar chamado simplesmente Å. No último domingo, eu decidi ir mais além e fui parar num lugar aonde já me tinham mandado muitas vezes, mas seja por pura desobediência ou por medo, nunca tinha dado certo. Esse domingo eu fui parar no inferno!

A cidade de Hell (inferno, em inglês), fica a exatos quinze minutos a pé do aeroporto de Trondheim, no centro da Noruega. Como eu tinha três horas de espera, fui ao inferno e tirei umas fotos. Eu sempre achei que o inferno era um lugar aonde as pessoas iam por obrigação, e que se eu ligasse pra qualquer amigo e sugerisse: “Ei, hoje é domingo, vamo pro inferno?”, eles iriam achar isso no mínimo estranho, e provavelmente diriam “Vá só!”. E como eu sempre achei que qualquer pessoa com mais de 14 anos que tira selfies deveria ir pro inferno e lá ficar pra sempre, eu não apareço em nenhuma das fotos. Caso você não acredite que fui eu quem tirou as fotos, vá pro inferno e veja você mesmo.

inferno

Como chegar ao inferno:

Do aeroporto de Trondheim, só existe uma ponte que leva ao inferno. Pra quem vai de carro ou de ônibus, a viagem é rápida e tranquila, mas quem decide ir a pé tem que passar uma prova de vertigem e desafiar qualquer medo de altura- A ponte de pedestres é feita de grades de metal, daquelas que dá pra ver pelos buraquinhos. Enquanto atravessa a ponte em direção ao inferno, é possivel ver a água a alguns metros de distância dos seus pés. Se olhar pra frente, já é possível ver o inferno. Eu, “bravamente”, conclui a travessia de cinco minutos, voltei a respirar e continuei a caminho do inferno.

Ao chegar lá, percebi que, ao contrário do que muitos pensam, o inferno é bastante calmo. Calmo demais, até, visto que eu não cheguei a ver uma alma viva (ou morta). Também é possível chegar ao inferno de trem, de ônibus e de carro, então eu achei estranho não ter visto ninguem por lá. Talvez por ser domingo, e domingo não é um dia bom pra mandar as pessoas pro inferno, e mesmo que fosse, elas talvez tivessem outros compromissos. Eu não tinha, por isso fiz questão de ir.

inferno

No inferno eu só vi uma loja de artigos para carros (fechada) e a estação de trem. Estranhei a ausência de escritórios de advocacia e de gabinetes de políticos. Tem também uma praia, mas apesar de estarmos no começo do verão, a temperatura não passava dos 11 graus, então eu duvidava que fosse qualquer coisa como Copacabana. Se a média de temperatura no inferno for a mesma da cidade vizinha Værnes, é possível prever que no inverno a temperatura no inferno pode chegar a -20 graus Celsius. A arquitetura do inferno é típica norueguesa, com aquelas casas vermelhas que sempre aparecem nas fotos dos fiordes. Eu confesso que não sei que língua se fala no inferno, pois não tinha ninguém lá. Se eu fosse chutar, eu diria alemão.

O meu tempo no inferno foi curto, por sorte (ou puro tédio). Ao menos aos domingos, o inferno parece ser um lugar sem nada pra fazer. Talvez seja por isso que muita gente é mandada pra lá, pra que morram de tédio! Na volta, tive que atravessar a maldita ponte de novo (que inferno!). Logo depois da ponte, voltando em direção ao aeroporto, eu vi o shopping center Hell Kjøpesenter, que estava obviamente fechado por ser domingo. Domingo é o dia do Senhor, até no inferno, apesar de tecnicamente o Hell Kjøpesenter já ser fora do inferno (por ser depois da ponte). No geral, eu recomendaria uma visita ao inferno a muitas pessoas, apesar de eu mesmo não ter desejo algum de retornar.

Esclarecimento: em norueguês, a palavra inferno não é traduzida como “Hell”, mas como “Helvete”. Logo, os cinco ou seis noruegueses (de cinco milhões) que não entendem inglês não veem graça alguma na situação.

Tammer Castro é mestre em Linguística pela Florida International University e atualmente é pesquisador doutorando na Arctic University of Norway, em Tromsø, Noruega. Clique aqui para saber mais sobre o Tammer.

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Escrito por Filipe Teixeira

Escritor amador e ansioso profissional.