Dia das Mães – Mãe, ser ou não ser?

9 de maio de 2015 | Escrito por Filipe Teixeira | Autores convidados

por Juliana Bezerra, de Madri, Espanha.

Ao contrário da maioria das mulheres, eu nunca quis ser mãe. Brincar de boneca nunca foi minha praia, fugia da presença dos bebês e achava muito esquisito que alguém ficasse tentando fazer um pequeno rir. Venho de uma família enorme, em que sempre havia muitas crianças pequenas com milhares de outras crianças maiores dispostas a cuidar e, mesmo assim, jamais me ofereci para a tarefa. Em tempos de Internet, quando todo mundo joga pedra sem ler o texto até o final, quem quiser começar o linchamento, já pode lançar seu pedregulho. Os demais aguardem, por favor.

Quando conheci meu marido, deixei bem claro que não queria filhos. Afinal, se esse fosse o sonho dele, eu não teria direito de atrapalhar essa escolha. Por sorte, ele concordou naquele momento e fomos felizes. Nesse meio tempo, minha irmã, que sempre adorou crianças, me deu o sobrinho mais legal do mundo (tia coruja, eu?). Meu sobrinho era fofo e realmente dava pouco trabalho, mas eu continuei firme na minha decisão; já meu marido ficou abalado, porque ele e o moleque se tornaram grandes camaradas. Mas tivemos a ideia de vir para Espanha e, se o relógio biológico começava a despertar, mais uma vez teria que esperar. Terminamos nossos estudos, decidimos ficar e encontramos trabalho. De novo, a pergunta: ter ou não ter filhos? Claro que não foi de repente, mas cresceu em mim o desejo de ser mãe, de criar e ensinar alguém. Até que, num lindo e esplendoroso final de tarde em Alcalá de Henares, comuniquei ao meu esposo que desejaria ser mãe. O que aconteceu depois, não posso contar aqui…

Um ano e meio de tentativas mais tarde, fiquei grávida. Se para toda mulher já é uma mudança brutal, física e psicologicamente, imagina para um expatriado. Além de me transformar em mãe, teria que descobrir como funciona toda parte clínica e burocrática de ter um filho na Espanha. Primeiro desafio: na Espanha, a cesárea só é realizada em caso de risco real. Como se faz um parto normal? Não tinha a menor ideia! Ninguém do meu círculo de amizades no Brasil tinha passado por um parto natural. As histórias dos 15 partos normais da minha avó me pareciam de um século distante. Por isso, devo muito às minhas alunas e alunos que me contavam sobre sua experiência.

Segundo: aguentar a antipatia dos médicos. Da minha ginecologista aos profissionais que faziam aos exames, passando pela enfermeira especializada que me atendeu ao final da gestação – a matrona – todos eram de uma secura ímpar. O jeito foi compensar a falta de informação com horas de Internet e perguntando aos amigos. Os únicos médicos mais receptivos foram a enfermeira que ministrou o curso de preparação para o parto e a equipe que me acompanhou durante ele.

Terceiro: como seria o registro? Meu filho teria que passar pelo cartório espanhol, o consulado do Brasil e de Portugal, pois tenho a cidadania portuguesa. Quarto: que tipo de ajudas teria direito? Como faz com a creche? Como funciona a saúde pública para as crianças? Acrescente a isso o fato de que tínhamos que mudar de apartamento, preparar o quarto do pimpolho, trabalhar, etc. E tudo isso sozinhos!

Toda mulher (e todo homem) que vive a gravidez sabe os obstáculos superados nos fazem mais forte. Todos que moram fora também! O mesmo empenho que usei para falar o idioma, utilizei para enfrentar as consultas da minha médica desagradável. Nessa caminhada, contei com a ajuda inestimável do meu marido, que também estava tão nervoso quanto eu, mas segurou a barra. Fomos descobrindo tudo ao mesmo tempo em que a minha barriga crescia. Desde a documentação necessária para solicitar uma vaga na creche a reconhecer às primeiras contrações e como proceder.

No mais, minha mãe veio nos ajudar poucos dias antes do nascimento do pimpolho. Superado aquele primeiro mês cansativo e estressante, nos acostumamos com a rotina de ter um bebê em casa e até viajar conseguimos. Hoje estamos enfrentando outras questões culturais em relação à creche, ao fato de criar um filho em ambiente bilíngue e, especialmente, a como é ver seu filho crescer em um ambiente que não foi o dos seus antepassados. Mas, querem saber?, depois de tantas dificuldades, acho que vamos tirar de letra!

Feliz dia das mães!

A Juliana escreve no blog Rumo a Madrid. Clique aqui para ouvir a entrevista com a Juliana Bezerra no O Nome Disso É Mundo.

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Escrito por Filipe Teixeira

Escritor amador e ansioso profissional.