Siem Reap, Camboja – Cidade 9 de 50

12 de abril de 2015 | Escrito por Juliana Santiago | Desafio das 50 cidades

Saímos de Ho Chi Minh (Vietnã) num ônibus abarrotado de gente, pacotes e odores, e, em pleno segundo dia de 2015, chegamos a Phnom Penh, capital do Camboja. Dali, pegaríamos ainda um tenso sleeping bus até Siem Reap. Nesse ínterim, é claro, paramos para jantar: cerveja Cambodia e um prato exótico gratinado com formigas. Sou dessas.

Difícil atribuir um único cheiro, único sabor e única textura a Siem Reap. A carne borrachuda de cobra, o café servido no banho-maria, a água turva da Vila Flutuante e o solo de guitarra hipnotizador de “Another Brick in the Wall” escutado à noite na Pub Street fomentam um todo – infragmentável – para falar da experiência. Poucas vezes um recanto me evocou tanta memória estésica em tão pouco tempo, ao passo que me mostrou coisas que só imaginava existir…

Foram três dias. No primeiro, visitamos a Vila Flutuante, onde se veem vidas humanas totalmente resolvidas sobre as águas: templos, bares, mercados, residências, restaurantes, lojas, tudo ancorado, tudo leve e fluido sobre o rio turvo. Num barco particular com um guia, estávamos tendo um passeio agradável até que nos deparamos com um ponto polêmico: a visita ao orfanato-escola. O guia, primeiramente, falou-nos da existência do lugar e, em seguida, levou-nos a um mercado, onde um rapaz concentrado e estático – e que mais parecia haver decorado sua fala – apresentou-nos os tipos de comida disponíveis e seus preços absurdamente altos, no intuito de que comprássemos para as crianças do orfanato. Como que para justificar o abuso de valores, argumentou ainda com o dispêndio tido para aquela comida chegar até ali. Revoltados, não compramos a comida, apenas um pequeno engradado de garrafinhas de água, que foi mote para um segundo constrangimento. Ao chegarmos ao orfanato, pediram-nos para distribuir as garrafinhas enquanto eles tiravam foto da “boa ação”, ao que nos recusamos, alegando desconforto.

siem reap

O momento do orfanato-escola nos foi bastante desconfortável, dada a forma com que usam aquele espaço como uma mambembe atração turística, além do abuso da boa fé ao cobrarem preços surreais dos visitantes por uma comida que, ao que se acredita, entrará num looping infinito orfanato-mercado para a eterna extorsão ao turista.

À tarde e à noite, exploramos o Old Market e o Night Market, mercados nos quais podemos encontrar belíssimos quadros, bolsas, camisetas e artesanatos em geral e a um preço excelente. Lá, a barganha é língua oficial, os preços são ditos em dólar e cada passo dado para fora da loja representa um dólar a menos sobre o preço inicial. Assim, se você está interessado em algo, finja que vai embora. Serve na barganha e no amor.

siem reap

No terceiro dia, arrematamos a estadia em Siem Reap com um passeio aos incríveis templos do complexo Angkor Wat. Contratando uma agência, de oito da manhã às cinco da tarde, conseguimos ver cinco templos em único dia com direito a muitas fotos e total encantamento. É impossível não perceber, contudo, o naipe mais turístico que religioso desses templos. Neles, não vimos cerimônias, pessoas orando ou qualquer ritual dessa natureza. Apenas placas indicando o perigo das escadarias, a proibição de certos adereços (como bonés), personagens com trajes típicos com os quais se podia tirar fotos e muitos, mas muitos turistas de todos os lugares imagináveis.

siem reap

A noite de Siem Reap é uma miscelânea de informações: mercados, quiosques, instigantes comidas de rua (crepe, suco de frutas, insetos exóticos), restaurantes com churrasco de perna de rã, crocodilo, cobra; opções de comidas japonesas, italianas, mexicanas; lanchonetes com hambúrguer de crocodilo, bar de rock com banda ao vivo, techno music e muitos “tuk-tuk” (moto com um anexo para passageiros atrás) sempre à disposição para levar-nos ao hotel. No cômputo geral, posso dizer sem falsa demagogia que passar três dias em Siem Reap foi a maneira mais rápida de ficar rica que encontrei até o presente momento.

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Escrito por Juliana Santiago

Nunca comprou melhorias no Candy Crush.