Baratas fritas, por favor – A comida de Bangkok

10 de abril de 2015 | Escrito por Rafael Feltrin | Comes e bebes

Sim, é verdade. E já lhes aviso de antemão: é bem nojento. Foi numa daquelas idas e vindas a trabalho (onde o turismo já havia se tornado uma consequência óbvia) na Tailândia que eu me rendi aos encantos “lado B” da comida de Bangkok.

E foi naquela caótica e desejada sexta-feira, perto das sete da noite, quando eu caminhava próximo ao Victory Monument, já em busca da minha sagrada panqueca com Nutella – que, além de sagrada, era praticamente uma regra a ser seguida – que eu acabei recalculando o GPS da fome para outro percurso, onde havia um mercado local que me apetecia estarrecidamente.

Se eu soubesse que meu instinto um tanto curioso me levaria onde levou, já teria ido antes. Ou o GPS da fome talvez estivesse com algum defeito, pois nesse dia eu acabei trocando a maestria da Nutella por uma barata asiática. E a tragédia estava apenas no início.

comida de bangkok

Panqueca com Nutella

Adentrei a rua das barraquinhas e dos food courts a fim de encontrar algo “diferente”, e a consequência foi um jantar inusitado, quando um senhor tentando falar inglês me abordou: “Do you like cockroach? Try cockroach!” – não vou dispensar a tradução de que ele me ofertava loucamente um apetitoso cardápio de baratas. Claro, além das larvas, gafanhotos, besouros e escorpiões.

Mas não fui tão ousado. Só impulsivo ao ponto de dizer para o vendedor: “Poxa, não sabia que existiam tantas variedades! vou provar”.

Entrez.

Era difícil determinar o prato de entrada dessa degustação bizarra a qual eu estava prestes a iniciar, dessa forma comecei pelas larvas; tentando imaginá-las como algo mais sugestivo, me surpreendi com o gosto, que está longe de ser saboroso, mas parece uma batata frita. Tudo bem, nem tanto. Mas não tão desastroso quanto parece.

Le Plat du Jour

comida de bangkok

Após uma sensação de coragem com a pobre larvinha, percebi que o “prato do dia” eram as baratas (que pareciam anomalias sob efeito de esteróides, de tão grandes e horríveis), mas ainda me faltava inspiração para enfrentá-las.

Não contente, desviei minha atenção para os grilos e naquela altura do campeonato eu tinha a sensação de estar no Museu do Instituto Biológico de São Paulo, dentre tanta diversidade de opções no “cardápio”. Pedi um grilo. E o comerciante tailandês ainda teve a pachorra de perguntar se eu queria mais ou menos torrado.

Neste, não senti um sabor específico, mas percebi o problema do grilo quando as asas ficavam na garganta, igual casca de amendoim, difícil de engolir. Naquele momento, que saudade eu já sentia da Nutella!

Le plat

É óbvio que nada é servido “fresco” ou cru; todos os itens do “menu” eram dissecados e fritos e, mesmo que isso não me trouxesse uma conotação menos nojenta da história, nesse instante o mero mortal tupiniquim, já esmorecido pelo banquete, respirou bem fundo e sem mais delongas disse: “please, give me that cockroach”, o famoso prato principal da barata frita, servido num saquinho de pipoca.

comida e bangkok

Juro que tentava imaginar todas as delicias do mundo simultaneamente, para não perceber o quão bizarro me parecia àquilo, mas Nutella alguma desta vida fora suficientemente forte para resistir à astucia daquela barata; um gosto salgado e crocante, como um biscoito cream cracker (bem dirty-version). E dá-lhe meio litro de coca-cola gelada pra fazer descer aquilo, pois lá elas estão por toda a parte, vivas ou servidas e, ao menos na nossa cultura, não é nem um pouco agradável saber que você está comendo um dos insetos mais repudiados da Terra.

Agradável foi a sensação da “missão de insanidade cumprida”, em meio a tudo que eu sempre tive vontade de experimentar nessa tal gastronomia alternativa que reina pela Ásia.

Sempre fui daqueles que prefere ver para crer em determinadas circunstâncias e, na Tailândia, eu havia concluído que isso não era necessário. Afinal, após uma imersão cultural que aquela loucura toda me trazia, fosse com as panquecas, fosse com as baratas, fica difícil não olhar para carimbo tailandês no passaporte e não recordar a experiência.

E ainda faltaram os besouros e gafanhotos… É, esses eu deixo para o próximo carimbo.

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Escrito por Rafael Feltrin

Tenta ser legal, mas roubava Tazos na 5ª série.