O dia em que eu cheguei a Lisboa

12 de março de 2015 | Escrito por Filipe Teixeira | Diário de viagem

Lisboa é linda vista do alto. Eram seis e pouco da manhã quando o avião estava baixo o suficiente para que eu pudesse divisar a cidade em que eu iria morar pelos próximos seis meses pelo menos. Já na fila da imigração, percebi que não tinha nada além do visto no passaporte. Esqueci de anotar o telefone da Eliana, esqueci os papéis do seguro-viagem, o endereço do hostel, a declaração da AIESEC… eu só tinha o visto colado no passaporte. E torci para que isso fosse suficiente. Nunca se sabe se o agente da imigração vai estar de bom humor. Mas ele parecia não querer problemas àquela hora da manhã e carimbou meu passaporte devidamente.

Peguei as malas e, antes de entrar efetivamente no país, o senhor da alfândega me pediu que eu o acompanhasse. Ele abriu minhas malas enquanto me fazia umas perguntas. Uns cinco minutos depois, fui liberado. E ele deveria ser demitido, porque o país corre sérios riscos se toda revista de mala for rápida daquele jeito.

A Eliana me esperava no saguão do aeroporto. E foi bem complicado me acostumar ao seu sotaque moçambicano. Perguntei “o quê?” muitas vezes e outras tantas simplesmente concordei já com vergonha de não entender minha própria língua.

Lisboa

Vista do Castelo de São Jorge a partir do Miradouro de Santa Justa.

Pegamos o metrô e trocamos da linha vermelha para a azul na estação São Sebastião. Saímos na estação Restauradores e a praça com o obelisco foi a primeira imagem que tive de Lisboa. Amor à primeira vista. O hostel ficava no miradouro S. Pedro de Alcântara, muito perto dali. Perto, mas lá no alto. Tínhamos que pegar o Elevador da Glória, mas o próximo só passaria dali a uma hora ou mais. Então eu – ou ela – tivemos a ideia de subir a pé. Uma ideia ousada, para não dizer tola. Ela subiu com a mala menor e eu com a maior. A sensação é de que eu ainda estou lá, subindo. Foi difícil. E estava quente. Era 21 de julho de 2012.

Antes de chegarmos ao hostel, liguei para a minha mãe. Eram quatro da manhã no Brasil. Atravessamos a rua e chegamos ao miradouro. A sensação que dá ao ver a cidade lá de cima é a de que ela foi montada e pintada numa combinação de cores hipnotizante. Na colina em frente à do miradouro, jaz o Castelo de S. Jorge. Bem à direita, surgem as torres da Sé e então o Tejo, azul, refletindo a luz do sol, que eu deixei me cegar em troca daquela paisagem.

No hostel, Teresa, a recepcionista tão linda quanto blasée, me recebeu dizendo que o check-in seria apenas às 15h.

Eram nove.

Lisboa

Praça do Rossio.

Guardei as malas lá mesmo e saí com a Eliana para tomar o café da manhã, ou pequeno-almoço, como chamam os portugueses. Depois descemos até a Baixa. Nessas poucas horas em que eu estava na cidade, eu entendi porque no Brasil chamamos certo tipo de pavimento de “pedras portuguesas”. Elas estão em toda parte, mas aqui o nome é “calçada portuguesa”. Fomos aos Armazéns Chiado para comprar um chip, que coloquei no celular que havia trazido do Brasil, mas não funcionou. Então a Eliana me ofereceu um dela, por isso tivemos que ir até sua casa, nos Anjos.

Voltei sozinho para o hostel e, claro, me perdi. As saídas do metrô não foram problema, mas quando cheguei à Baixa, em vez de subir para o hostel, desci. E foi justamente quando percebi essa contradição que constatei que estava perdido. Então dei meia-volta e caminhei em direção à estação para refazer o caminho. Aproveitei e voltei aos Armazéns Chiado para comer. E já que estava em outro país mais uma vez, por que não provar uma comida do lugar? Foi exatamente o que não fiz. Almocei num restaurante brasileiro. Feijão preto, picanha, farofa, batata frita, arroz branco e salada. Mas eu tinha tempo.

Cheguei ao hostel à uma da tarde. Faltavam ainda duas horas para poder subir para o quarto. Teresa estava irredutível. Tirei meu notebook da mochila para passar o tempo na internet, mas ele simplesmente não reconhecia mais redes wi-fi. Guardei o computador, atravessei a rua e tomei uma cerveja no quiosque do miradouro. A primeira cerveja (de muitas) em Lisboa.

Lisboa

Cerveja no Miradouro de S. Pedro.

Quando finalmente pude fazer o check-in, Teresa me indicou que havia um elevador nos fundos. Mas estava quebrado. Pode ser, aliás, deve ser coisa da minha cabeça, mas pra mim ela estava se divertindo com a minha situação. Um croata que havia acabado de fazer seu check-in se ofereceu para levar uma das minhas malas. Ele falou em inglês, eu entendi tudo, mas não consegui responder. Eu não consegui dizer um simples “yes”. Então ele começou a fazer mímicas apontando as malas e as escadas, até que o “yes” veio. E trouxe um “of course” junto.

Conheci o Drew, o australiano que me emprestou o Mac, de cujo skype eu liguei para o meu irmão me ensinar como reinstalar o drive do wi-fi. Havia também um casal de belgas, mas não falei muito com eles. Com o Drew, meu inglês voltou, mas não completamente, porque eu não conseguia dizer “but”. Eu só dizia “pero”.

O pessoal da AIESEC passaria pelo hostel à noite para me apresentar outros trainees e o Bairro Alto. Às nove da noite, conheci o João e o Gonçalo, que me apresentaram o Guy, que é brasileiro. Depois chegaram o Davide, italiano, e o Zoran, sérvio. Fomos a um bar na Rua do Teixeira, olha só!, e um deles teve a ideia de comprar um shot que era uma espécie de batismo. Mas continuei pagão, porque um dos vários ingredientes que a bartender pôs no copo era tabasco, e isso está além da minha capacidade.

Tomei umas duas cervejas, comi num fast food indiano e voltei para o hostel. Teresa já não estava lá.

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Escrito por Filipe Teixeira

Escritor amador e ansioso profissional.