Onde nenhum pôr-do-sol se repete

1 de fevereiro de 2015 | Escrito por Juliana Santiago | Diário de viagem

Das encantadoras vistas que a natureza nos regala, existe uma que parece ser buscada, ansiada, tal como um prêmio por mais um dia vivido. Um prêmio que parece ter o poder de salvar dias ruins e brindar dias bons; que parece ser objetivo a perseguir e motivação para prosseguir: o repousar do sol.

E, a despeito de o sol nascer para todos, é ele, o seu deitar, o alvo de nossa contemplação mais esperada. Vê-lo resguardar-se por detrás das montanhas de Timor-Leste findado o labor de mais um dia, então, torna todo esse rito ainda mais majestoso. É o perfeito desdém da natureza para os que constroem prédios, mirantes, bondinhos. É o preciso deboche pelo turismo que explora a vista de lugares altos, tornando-a acessível apenas para uma minoria.

pôr-do-sol

Díli, Timor-Leste. Foto: Cleusa Todescatto.

Uma afronta à alta sociedade talvez, também, esse tal de Timor-Leste – que não tem arranha-céus, que não tem barracas de praia; que não tem seleção de futebol – ter esse pôr do sol assim. Fulgurante. Debochado. Gratuito. Mas, acima de tudo: inédito em si mesmo.
De todas as partes de Díli pode-se vê-lo. Dirigindo para a casa, para a academia. Caminhando ao ar livre. Do mesmo modo, todos os que olharem para o céu às 19h o encontrarão: eu e você tanto quanto qualquer outra pessoa. Mas nunca, nunca o verão repetir-se.
pôr do sol

Díli,Timor-Leste. Foto: Renata Tironi.

Há oito meses moro em Timor e nunca presenciei um pôr-do-sol igual ao outro. Uma atmosfera de personalidade própria se desenvolve em torno de cada um deles, como se cada sol que se põe homenageasse alguém diferente.

Nunca vi nenhum pôr-do-sol assim. E nunca mais verei nenhum, pois a cada novo desfecho de dia, o fenômeno se pinta diferente. Pores-do-sol. “Pores-de-sóis”.

pôr-do-sol

Díli, Timor-Leste. Foto: Cleusa Todescatto.

Ora alaranjado, ora grená, cor-de-rosa, violeta, amarelo-manga, um degradê de azuis, divisão água e óleo de azul e âmbar, cada um deles encanta e hipnotiza de maneiras diferentes, ofuscando o restante de tudo o mais, transgredindo tudo o que veio a chamar-se beleza outrora.
A foto de capa foi feita pela Cleusa Todescatto na Praia Areia Branca, Díli, Timor-Leste. Clique aqui para conhecer a Cleusa e aqui para conhecer a Renata.

Deixe um comentário

Escrito por Juliana Santiago

Nunca comprou melhorias no Candy Crush.