Dia das Mães – Mãe sem fronteiras

10 de maio de 2014 | Escrito por Filipe Teixeira | Autores convidados

por Carla Mussallam Al Masri, de Bchamoun, Líbano.

Não há fronteira para o amor incondicional aos filhos. Ser mãe é uma das coisas mais importantes da minha vida e foi com muita naturalidade, mesmo com certos desafios, que aceitei a ideia de que um dia teria filhos e que a vida deles dependeria em grande parte de mim.

Moro no Líbano há 17 anos, sou casada com um libanês e tenho duas filhas: Yasmin (15) e Rayan (11). Sou neta de libaneses e, mesmo tendo certo conhecimentos da cultura libanesa, tive uma educação 100% brasileira.

Lembro-me como se fosse hoje de quando me despedi de minha mãe após os treze dias que ela ficou comigo aqui no Líbano depois que tive minha primeira filha. Sinceramente, tive medo, muito medo, mas depois de uma conversa comigo mesma, cheguei à conclusão de que eu teria que fazer a minha parte e o tempo iria me ensinar o resto. E assim foi feito.

Imagine morar em um país onde o idioma oficial é o árabe; e o inglês e  o francês são idiomas reconhecidos e obrigatórios nas escolas. Complicado, não é? Contudo não hesitei em escolher o português como língua oficial entre minhas filhas e eu. Por isso, pelo simples fato de usarmos a língua portuguesa em casa, mesmo meu marido não falando quase nada de português, minhas filhas falam com certa fluência e sem sotaque e me sinto gratificada por proporcionar-lhes este conhecimento, a propósito faço questão de ensiná-las e informá-las sobre o Brasil em todos os aspectos, tanto positivos quanto negativos.

Vim de uma família cristã, mas com liberdade religiosa. Fui batizada na igreja protestante, estudei em colégio católico e fui membro da Igreja Messiânica. Por fim casei com muçulmano. Me adaptei muito bem à família de meu marido, nunca tivemos problemas de religião, sempre nos respeitando mutuamente. Pela lei libanesa, minhas meninas são muçulmanas, porque é a religião do pai, mas não impomos o que elas devem seguir. Ensino a elas que devem respeitar todas as religiões e costumes. Portanto, aqui em casa comemoramos o Natal e a Páscoa, assim como todas as festividades muçulmanas, principalmente o Ramadan. E foi assim que naturalmente decidi criar nossas filhas.

Lembro-me de quando tive que escolher o tipo de educação escolar para as meninas. O primeiro desafio foi o idioma. Quando minha filha mais velha já estava com 2 anos completos, fui conhecer o currículo de escolas com educação em idioma francês e inglês. Aqui no Líbano existem escolas onde a base de tudo é em francês ou inglês, ou seja, todas as matérias são dadas no idioma escolhido. Escolhemos uma escola alemã, com base no idioma inglês e aulas de árabe, alemão e francês. E esse é um dos fatores de que me orgulho: minhas filhas com tão pouca idade falam praticamente 5 línguas: português, inglês, árabe, alemão e francês.

Em 2006, tivemos que sair às pressas fugindo de uma guerra e só pensava no bem-estar das minhas filhas. A força aérea brasileira estava fazendo a evacuação dos brasileiros e fomos em um dos primeiros voos. O pior e dramático momento foi a hora da despedida, pois meu marido ficou. A Yasmin estava com 7 e a Rayan com 3, e embora fossem muito pequenas para entender o que estava acontecendo, elas entenderam muito bem, porque da minha casa nós ouvíamos os bombardeios e os aviões passando. Expliquei o que estava acontecendo e disse que teríamos que deixar o Líbano por enquanto e ir ao Brasil.

Gostaria muito que minhas filhas vivessem em um país mais justo e mais limpo, mais tranquilo e altruísta. Digo a elas para que façam o que as deixe felizes e vivam em um lugar onde as pessoas sejam valorizadas e bem tratadas. Um dia talvez elas também serão estrangeiras e espero que tudo que as ensinei fique guardado na cabecinha delas e que elas saibam que, qualquer que seja a distância, o nosso amor sempre será firme e forte.

Clique aqui para ouvir a entrevista com a Carla e aqui para ler o primeiro texto da série sobre o Dia das Mães, escrito pela Carolina Szabadkai.

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Escrito por Filipe Teixeira

Escritor amador e ansioso profissional.