Dia das Mães – Coração de mãe estrangeira

9 de maio de 2014 | Escrito por Filipe Teixeira | Autores convidados

por Carolina Szabadkai, de Pécs, Hungria.

Sempre sonhei em ser mãe. De todas as vocações, essa é a que eu nunca tive dúvidas. Sonhava com a vida que me foi oferecida: finais de semana com toda a turma reunida, no sítio da família, férias das crianças na casa dos avós (meus pais), muitos primos para brincar e tudo o que eu sempre amei e conhecia como uma infância feliz.

Quis, então, o destino pregar-me uma peça… Minha metade veio da Hungria! Era o amor que eu sonhava, com um futuro diferente nas mãos.

Confesso que os primeiros pensamentos sobre ser mãe brasileira no exterior foram negativos. Como eu podia fazer isso com meus pais? Netos morando longe dos avós, que os queriam tanto. Como seria sem grande família? A da Hungria é tão reduzida… Meus filhos iriam amar um país onde não moram? Sentir-se-iam brasileiros? Enquanto eu ainda sofria com o aprendizado da língua, imaginava meus filhos com vergonha da mãe que jamais falaria húngaro e não entenderia os amiguinhos… Chorei muito com essa ideia, pintei um quadro triste sobre uma infância desconhecida para meus filhos.

Incrível como o ser humano tem medo do que não conhece! Pensando bem, o desconhecido jamais me decepcionou.

Existem as dificuldades. Ficar grávida longe da mãe trouxe momentos de dúvidas, de carência; chá de bebê e outras festas entre família e velhos amigos que acabam passando em branco, ou pela internet (na melhor das hipóteses); todas as primeiras vezes passar pelo medo de não saber o que fazer (primeiro médico, primeira vacina, primeiros documentos do bebê…); nem sempre podemos contar com alguém para cuidar das crianças, quando temos um compromisso, alguns, fatalmente, são cancelados;  vez ou outra, sem querer, surge aquela ideiazinha de se sentir sozinha no mundo; saudades, saudades, saudades…

Nem tudo é feito de conto de fadas… Mas não é assim a vida de qualquer maneira? Se eu tivesse a vida que imaginei seria um conto de fadas?

Não sintam pena de mim, porque agora vem a parte em que a realidade supera o sonho.

Sim existem dificuldades e coisas que me trazem saudades, mas são essas mesmas saudades que fazem com que tudo seja mais que perfeito.

Eu explico:

A distância entre os avós e toda a família do Brasil traz a necessidade de se aproveitar cada minuto com eles. Sempre que estamos juntos, estamos incrivelmente juntos, morando na mesma casa, pendurados em seus pescoços. Meus filhos dormem todas as noites apertados no meio dos meus pais e todos acordam doloridos de tanta felicidade dos chutes que levam à noite. Beijos, abraços, aprendizado… Tudo resumido e intensificado no período em que estamos presentes. O Brasil tornou-se um lugar fantástico, onde somente a diversão e o amor fazem parte do dia a dia. Meus meninos amam o Brasil!

Aprendi a ser mãe na Hungria e, para me ensinar, recebi um anjinho: a médica que cuidou da minha gravidez e cuida dos meus filhos. Mais que uma médica, ela virou minha amiga, atendeu a todos os telefonemas angustiados de uma mãe inexperiente e carente, deu conselhos, foi em casa para dar o primeiro banho, no meu primeiro filho, correu também quando aconteceu a primeira febre, permanecendo ao lado dele a tarde toda… O que mais eu poderia pedir?

Ser mãe no exterior trouxe uma realidade totalmente inesperada. Aqui, no país onde a licença maternidade dura três anos, curti cada minuto dos meus bebês. Gastei as rodas do carrinho nos longos passeios em parques e praças, vi dois meninos aprenderem duas línguas simultaneamente, misturando as culturas num sotaque parecido com o do pai, vi também crescer o orgulho da terra distante, cada vez que dizem de boca cheia que eles tem duas casas…

E ainda bem que a vida prega essas peças, que pega o amor que temos e dá um jeitinho de intensificar, põe tudo de ponta cabeça e mostra que assim também faz sentido.

Ser mãe no exterior é basicamente o mesmo que ser mãe no Brasil: preocupação com o futuro dos filhos, com notas na escola, educação em casa, sobre quando dizer sim ou não… Aprendi que para ter filho, não importa quem está presente fisicamente ou qual a cultura, o lugar no mapa… Tudo o que você leva no coração está sempre muito perto.

Leia mais textos da Carolina em http://carolbrasilhungria.blogspot.pt/http://www.brasileiraspelomundo.com/ e clique aqui para ouvir a entrevista que ela concedeu a O Nome Disso É Mundo. Leia aqui outros textos sobre o Dia das Mães.

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Escrito por Filipe Teixeira

Escritor amador e ansioso profissional.