Das solidões que encontramos ao viver fora

2 de março de 2016 | Escrito por Juliana Santiago | Sem categoria

A solidão boa é solidão opcional. Quando o sujeito mirou acuradamente seu entorno e por ela decidiu. Dentre as várias maneiras de sentir-se sozinho, legitimamente optou por ela em alguns campos da vida e em outros não. Mas quando a solidão é uma falta de opção, meus caros, é preciso ser forte. Essa foi uma das mais sinceras percepções que tive ao viver fora do Brasil e, não obstante, a mais eclética na oferta de novas formas.

Afinal, morar fora não é ter uma lua-de-mel fora. Nem visitar um parente fora. E menos ainda viajar de férias. Fora. Tudo isso nos oferece lembrancas, cansaços e fugas de rotina com dia e hora para findar-se, o que acaba por ser, de certa forma, a delícia dessas viagens. Saber que vamos voltar cheio de novidades pra contar, sem ter perdido – no meio do caminho – os elos, o emprego, os amigos.

Morar fora não. Requer algo de coragem e fortaleza. Especialmente em alguns momentos pontuais da experiência. Especialmente para encarar a vasta gama de solidões…

Compartilho nesse texto, sem mais, algumas dos tipos de solidão que conheci vivendo fora. Intensas, ingratas, necessárias, amadurecedoras, dolorosas, felizes. Umas mais que outras. E vale reforçar: nem sempre opcionais.

solidões

  1. Solidão ideológica: você tem a sensação de que não existe ninguém disposto a te compreender. As pessoas de que você se aproxima parecem que o julgam e estão prontas a espalhar fofoca se você se abrir com elas. O mundo parece impermeável às suas ideias. No trabalho, no governo do país, na conduta mesquinha do outro, algo de podre está acontecendo, mas você não pode falar, senão sua cabeça rola. Seu silêncio passa a ser sufocantemente a sua falta de opção. Essa, caros, é a solidão mais recorrente e a que perpassa todas as outras.
  1. Solidão sexual: Conforme já disse, pode ser uma opção ou não. Pode-se transferir pra comida ou outra coisa. Pode-se, até mesmo, nem se ter identificado que se trata de solidão sexual. Solidão não é propriamente algo negativo. Às vezes, estar acompanhado de alguém que não se quer é que, sim, é negativo. Por outro lado, pode-se querer transar sem mais e não se saber exatamente como se faz isso. Aí sim, já não é opção.
  1. Solidão linguístico-comunicativa: Aqui em Díli, por exemplo, os equívocos de comunicação (fala e compreensão) são recorrentes. Aqui, apesar da diversidade linguística, em alguns pontos, a diversidade cultural não permite que sua mensagem chegue ao outro e vice-versa. As visões de mundo, o humor, o comércio, os gostos, a forma de se comunicar… são tantas as diferenças… tem horas que converser ao telefone com um cearense (no meu caso) e ouvir as nossas expressões já me faz sentir menos só.

solidões

  1. Solidao em gostos simples: No Whatsapp ninguém chama você pra sair. No barzinho, ninguém sabe falar de livros. No clube do livro, ninguém bebe cerveja. Você até tem amigos. Só não pra acompanharem você nas suas três versões. E você acaba fazendo algo sozinho querendo estar acompanhado. E pela falta de opção (ou não), você fica só.
  1. Solidão de pessoas (legais ou não): Nesse tipo de solidão, seu critério já baixou bastante. Elas, as pessoas, já não precisam concordar com você, nem serem legais, inteligentes, gostarem das mesmas coisas, conversarem bem, serem bem-humoradas. Elas só precisam estar ali e te fazerem companhia. Só. Nesse estágio, a alma já apela pra algum instinto de sobrevivência. Por outro lado, é nele também em que, curiosamente, exercitamos a aceitação das diferenças. E isso faz bem a todos.

Se você (re)conheceu essas, ou outros tipos de solidão ao viver fora, deixe seu comentário!

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Escrito por Juliana Santiago

Nunca comprou melhorias no Candy Crush.