Doses extremas de amabilidade em Medellín
Assim que vim morar na Colômbia, descobri rapidamente que, apesar de achar que gostava de gente, não era bem assim. Eu estava feliz em ganhar o posto de moça simpática somente desejando “bom dia”, “boa tarde” e “boa noite” e um sorriso para acompanhar. Talvez por timidez, eu não nunca tenha demonstrado interesse em saber como ia a família, o cachorro e qual a próxima viagem marcada de pessoas desconhecidas. Era sempre aquele cumprimento já decorado desde criança: “Bom dia, tudo bem?” “Sim e com você?”. Eu me apegava, basicamente, ao superficialismo das relações e estava tudo bem.
Viver aqui exigiu que eu tivesse um cuidado a mais com as pessoas do meu convívio. Sempre achei que era zelosa, mas não: o básico da amabilidade não se aplica aqui. No início, me senti um pouco artificial. Afinal, ao encontrar um colombiano, o que se deve falar é algo a mais do que duas palavrinhas. Há quatro meses aqui, muito raramente falei pouco ao encontrar um desconhecido ou um conhecido. O tratamento é quase o mesmo. Também pensei que poderiam ser curiosos para fofocar alguma coisa entre eles. Se a CIA quiser investigar alguém com todas as perguntas sem levantar suspeitas, é só arrumar um jeito de enviar o investigado para a Colômbia. Ele não vai nem duvidar e, provavelmente, falará de tudo e vai ficar encantado por ter conseguido um novo amigo na rua. Fica a dica, EUA.
Vivemos em um mundo em que a gentileza é noticiada. Neste tempo vivido aqui, não vi tal assunto em nenhum jornal. Acredito que a maioria tenha incorporado a amabilidade a si, por isso não é novidade. Pode ser para todos eles, mas, para mim, isso é muito novo. Falando assim, parece até que no Brasil não temos boas maneiras, mas temos sim, somos amáveis, a diferença é que aqui todos se sentem parte da cidade e, com isso, apoiam a amabilidade coletiva e não a gentileza individual para um bem-estar particular.
Todos os dias, ao sair do prédio em que moro e ao chegar ao trabalho, participo deste pequeno diálogo:
Eu: “Bom dia”
Porteiro: “Oi, bom dia! Como vai?”
Eu: “Tudo bem, e você?”
Porteiro: “Tudo bem, obrigado. Como amanheceu?”
(No Brasil, uma segunda pergunta para saber se está bem não é mais um papo entre pessoas que se encontraram rapidamente, já virou papo de elevador. Precisei de alguns dias para verificar que isso é muito normal por aqui),
Eu: “Bem e você?”
Porteiro: “Bem também, obrigado. Que sigas bien!”
Eu: “Obrigada!”
O bom dia ao chegar ao trabalho é o mesmo, só mudam os personagens. Agora quem deseja que tudo ocorra bem no meu dia é Beta, a secretária do prédio em que trabalho. Importante dizer que todo os diálogos são feitos com um sorriso no rosto. O que eles demonstram é, de fato, um interesse em saber como a pessoa está. Perguntei a um amigo colombiano se era assim mesmo. Ele riu e disse que sim.
A Colômbia me faz sempre maior: tanto na silhueta como no espírito. Repensar a amabilidade nesses meses e ficar positivamente impressionada com o cuidado de pessoas desconhecidas fez com que eu compartilhasse isso com família e os amigos. Agora, para eles, aqui não é só um lugar com paisagens bonitas, eu vivo em um país bonito e quentinho e foi exatamente esta a temperatura que senti por aqui: a do abraço.
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Escrito por Filipe Teixeira
Escritor amador e ansioso profissional.