Doses extremas de amabilidade em Medellín

16 de outubro de 2015 | Escrito por Filipe Teixeira | Cultura, Viva Medellín

Assim que vim morar na Colômbia, descobri rapidamente que, apesar de achar que gostava de gente, não era bem assim. Eu estava feliz em ganhar o posto de moça simpática somente desejando “bom dia”, “boa tarde” e “boa noite” e um sorriso para acompanhar. Talvez por timidez, eu não nunca tenha demonstrado interesse em saber como ia a família, o cachorro e qual a próxima viagem marcada de pessoas desconhecidas. Era sempre aquele cumprimento já decorado desde criança: “Bom dia, tudo bem?” “Sim e com você?”. Eu me apegava, basicamente, ao superficialismo das relações e estava tudo bem.

Viver aqui exigiu que eu tivesse um cuidado a mais com as pessoas do meu convívio. Sempre achei que era zelosa, mas não: o básico da amabilidade não se aplica aqui. No início, me senti um pouco artificial. Afinal, ao encontrar um colombiano, o que se deve falar é algo a mais do que duas palavrinhas. Há quatro meses aqui, muito raramente falei pouco ao encontrar um desconhecido ou um conhecido. O tratamento é quase o mesmo. Também pensei que poderiam ser curiosos para fofocar alguma coisa entre eles. Se a CIA quiser investigar alguém com todas as perguntas sem levantar suspeitas, é só arrumar um jeito de enviar o investigado para a Colômbia. Ele não vai nem duvidar e, provavelmente, falará de tudo e vai ficar encantado por ter conseguido um novo amigo na rua. Fica a dica, EUA.

Vivemos em um mundo em que a gentileza é noticiada. Neste tempo vivido aqui, não vi tal assunto em nenhum jornal. Acredito que a maioria tenha incorporado a amabilidade a si, por isso não é novidade. Pode ser para todos eles, mas, para mim, isso é muito novo. Falando assim, parece até que no Brasil não temos boas maneiras, mas temos sim, somos amáveis, a diferença é que aqui todos se sentem parte da cidade e, com isso, apoiam a amabilidade coletiva e não a gentileza individual para um bem-estar particular.

Todos os dias, ao sair do prédio em que moro e ao chegar ao trabalho, participo deste pequeno diálogo:

Eu: “Bom dia”

Porteiro: “Oi, bom dia! Como vai?”

Eu: “Tudo bem, e você?”

Porteiro: “Tudo bem, obrigado. Como amanheceu?”

(No Brasil, uma segunda pergunta para saber se está bem não é mais um papo entre pessoas que se encontraram rapidamente, já virou papo de elevador. Precisei de alguns dias para verificar que isso é muito normal por aqui),

Eu: “Bem e você?”

Porteiro: “Bem também, obrigado. Que sigas bien!”

Eu: “Obrigada!”

O bom dia ao chegar ao trabalho é o mesmo, só mudam os personagens. Agora quem deseja que tudo ocorra bem no meu dia é Beta, a secretária do prédio em que trabalho. Importante dizer que todo os diálogos são feitos com um sorriso no rosto. O que eles demonstram é, de fato, um interesse em saber como a pessoa está. Perguntei a um amigo colombiano se era assim mesmo. Ele riu e disse que sim.

A Colômbia me faz sempre maior: tanto na silhueta como no espírito. Repensar a amabilidade nesses meses e ficar positivamente impressionada com o cuidado de pessoas desconhecidas fez com que eu compartilhasse isso com família e os amigos. Agora, para eles, aqui não é só um lugar com paisagens bonitas, eu vivo em um país bonito e quentinho e foi exatamente esta a temperatura que senti por aqui: a do abraço.

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Escrito por Filipe Teixeira

Escritor amador e ansioso profissional.