Como consegui um emprego na Colômbia

4 de agosto de 2015 | Escrito por Filipe Teixeira | Diário, Viva Medellín

Quando cheguei aqui, pensei que seria muito difícil arrumar um trabalho. Me enganei. Em duas semanas na Colômbia, enviei uns currículos para todos os lugares, achei uma oferta de emprego no grupo do Facebook (!!!), me candidatei e recebi uma ligação: Camila, estoy-aqui-querendote-ahogándome-entre-fotos-y-cuadernos…“. É, leitor, só me lembrei dessa música da Shakira. Meu espanhol estava mega enferrujado e, cá entre nós, para falar ao telefone, a pessoa tem que ter uma certa dominação da língua porque o ritmo da conversa é muito mais rápido. Portunhol não dá.

Do outro lado da linha, me falaram que gostaram do perfil e se eu poderia comparecer na empresa para uma entrevista. Topei na hora. A dúvida que veio: ele falou lunes ou martes? Era na segunda ou na terça-feira? Eu, quando fico ansiosa, me esqueço do que foi falado. Ainda bem que eu tinha um caderninho e anotei o dia. Era mesmo numa terça-feira, era el martes.

Quando cheguei à empresa, a moça perguntou por que eu sabia falar espanhol. Falei que morei por um tempo em Buenos Aires e que aprendi o portunhol maravilhoso lá (alguém diz isso pra possível futura chefe?). Ela riu, me acompanhou até a porta do elevador e falou que entraria em contato. Pensei que não iria dar em nada, mas deu. Fiquei roendo as unhas por duas semanas e ela me ligou novamente perguntando se eu não poderia comparecer para outra entrevista. Uma outra pessoa me entrevistou, disse que queria me conhecer. Não durou nem 20 minutos. A agonia aumentava.

Depois de três dias, recebi um e-mail dizendo que eu tinha sido aprovada e perguntando se eu poderia ir ao centro da cidade fazer exames para ingressar na empresa. Lógico que sim, pensei. Fiz todos os exames e o resultado saiu na hora: estava apta.

Mais duas semanas sem notícias.

Recebi um e-mail perguntando se poderiam fazer uma visita domiciliar para ver como eu vivo. Perguntei ao Manuel, amigo do Filipe que é colombiano, se isso era normal. Ele disse que era sim. Agendei. Uma mulher super amável, María, veio de moto e perguntou se poderia sentar no sofá da sala. Disse que sim. Ela começou a perguntar os itens do meu currículo, respondi e achei curioso essa maneira de entrevistar.

Ela escutou um barulho vindo do quarto e me perguntou quem era. Falei que meu namorado estava no quarto. María me perguntou se ele poderia comparecer à sala para que pudesse fazer a entrevista com nós dois. Disse que podia. Ele se sentou e as perguntas estilo cantinho intimidade com a Xuxa surgiram:

“Camila, você fala frequentemente com seus pais? Quantas vezes por semana?”

“Defina a sua relação com o seu namorado em três palavras.”

“O que vocês fazem no horário livre?”

Para ficar mais parecido, ela podia ter perguntado se eu gosto mais de campo ou de cidade grande. Só faltou essa pra eu mandar um beijo especial para a Xuxa e para a Sasha ao final.

Achei tudo diferente demais, e aí veio a máquina fotográfica para registrar o momento com chave de ouro. María pediu para tirar uma foto minha e do Filipe na sala. Fotografou, disse até logo e foi embora.

Depois de acharmos isso, no mínimo, curioso e engraçado, ainda esperei alguns dias por alguma resposta. Com essa “pesquisa domiciliar”, ela teria que enviar à empresa que estava fazendo os trâmites para a minha contratação. Demoraram alguns dias. Depois, me ligaram da empresa perguntando sobre a minha cédula de extranjería. Enviei o número, todos os documentos da faculdade, curriculum, mais uns papeis que eu tinha que responder e fui contratada.

Para as pessoas que têm receio de não ter um espanhol bom e por isso temem não encontrar emprego na Colômbia, saibam: para quem fala português há sempre oportunidade. O comércio com o Brasil é sempre crescente e por isso as empresas colombianas precisam de empregados que falem português fluentemente. Há vários incentivos que facilitam o intercâmbio entre ambos os países. Um exemplo disso é o próprio visto Mercosul, TP-15. Ele permite que brasileiros venham à Colômbia para estudar e/ou trabalhar em um prazo de 2 anos sem comprovação prévia de vínculo. Ou seja, para ficar aqui, não é necessário que a comprovação que esteja trabalhando ou estudando alguma coisa. Se for demitido do trabalho, tudo bem. Procure outro. Não precisa voltar para o país. O mesmo acontece com os colombianos que vão para o Brasil.

Mesmo com todas essas pequenas demoras e entrevistas inusitadas, valeu a pena. Hoje foi meu primeiro dia no emprego novo. Estou feliz e espero, sinceramente, que eu possa cantar essa música da Shakira algum dia perfeitamente (e ao telefone).

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Escrito por Filipe Teixeira

Escritor amador e ansioso profissional.