5 curiosos traços culturais do cotidiano em Timor-Leste

1 de junho de 2015 | Escrito por Juliana Santiago | Diário de viagem

Uma das razões mais motivadoras para os viajantes de plantão é, certamente, conhecer uma nova cultura. Diferentes e únicas em cada região, as culturas não se definem somente pelo que a sociedade produz e exerce como fonte de renda básica, mas também em como ela se comporta, o que valoriza e despreza, desde suas práticas sociais mais simples, como uma saudação, até âmbitos religiosos e festejos tradicionais.

Quer sejamos turistas, mochileiros ou residentes em um outro lugar, observar a conduta e o proceder de cada povo no seu cotidiano é sempre uma atividade que mentalmente colocamos na lista de viagem. Afinal, é no mínimo instigante perceber como certos comportamentos e maneiras de pensar e de viver são criados, recriados e, de alguma forma, padronizados por uma comunidade.

Timor-Leste, esse território multilíngue, cheio de fé, de resistência e de valores, manifesta em pequenos fatos do dia a dia, aspectos cheios de ternura e respeito ao próximo que encantam o bom observador. E acrescento: tamanha é a surpresa do estrangeiro que se lança às ruas do país ao ver que a bondade desse povo sofrido está nas pequenas coisas.

A seguir, apresento-lhes, portanto, cinco curiosos traços culturais de fazer qualquer um amar Timor-Leste!

1. Colocar você no coração

O cumprimento dos timorenses é um gesto altamente comovente. Um aperto de mão rápido e solene e, depois, a mesma mão usada no cumprimento é levada ao coração. Esse gesto simboliza respeito pelo cumprimentado. Porém, nem todos os timorenses o fazem. Há rumores de que aqueles que nascem na capital estão perdendo o hábito de cumprimentar dessa maneira. Ainda assim, é muito comum de se ver e absolutamente agradável quando somos cumprimentados assim!

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Microlete: transporte público (tenso) de Díli.

2. Aplaudir quando gosta de algo

Vi acontecer em palestras e em sala de aula, tanto com o público adulto quanto com mais jovens. Quando a pessoa que está com a palavra diz algo que é do agrado da maioria, eles rapidamente puxam uma espontânea salva de palmas acompanhada de sorrisos largos, acenos com a cabeça e por vezes de “êêê”. Para eles, trata-se de uma maneira de dizer que aprovaram ou gostaram de uma decisão ou de uma simples afirmação feita em público. Muito espontâneo!

3. Cumprimentar na rua com “Vai aonde”

É curioso notar. Caminhando pelas ruas, é muito comum sermos cumprimentados com um Boa tarde, vai aonde? (Em língua tétum, Botarde, Ba ne’e bee?). Porém, diferentemente do que poderia pensar um brasileiro (ou qualquer outro estrangeiro acostumado com cidades pequenas, ou cidades violentas), essa pergunta soa mais como uma forma ingênua de puxar conversa, demonstrando interesse por um fato da nossa vida. Se formos fazer uma comparação, “Como vai você?” ou “Tudo bem?” também podem ser vistos como perguntas invasivas, não é verdade?

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Uma Lulik (casa sagrada) e moça com vestido de Tais (tecido tradicional): símbolos culturais de Timor-Leste.

4. “Conforme”

Interessante, também, é notar o uso da conjunção “conforme”. Ela é usada solta e no sentido de “depende”. Mas não é “depende do tempo, das condições climáticas, da sua saúde”, e sim “depende da sua vontade!”. Por exemplo, quando faço uma pergunta: vocês preferem fazer avaliação escrita ou oral? Em seguida, a resposta: “Conforme, professora!” (Viva a Língua Portuguesa e suas multifaces!)

5. Riso alto e frouxo

Os jovens e adultos timorenses adoram brincar (nas aulas de português, esse é, inclusive, um verbo frequentemente relembrado pelos alunos). Quer seja na rua, quer seja na sala de aula, é bastante comum nos depararmos com uma situação de brincadeira entre eles (e, por vezes, envolvendo o estrangeiro). E em momentos cuja expansividade e alegria eclode, saem gargalhadas finas, altas e com a boca bem aberta, vinda dos homens. Esse também é um fato que as enciclopédias não mostram, mas que observei acontecer com bastante frequência e em espaços diferentes, com pessoas diferentes, aqui em Díli (capital de Timor-Leste).

Como toda cultura está passível de recriação, não se pode afirmar que esses traços durarão para sempre. Contudo, fica o registro de que em 2015, momento histórico único, essas sutis, porém sublimes características vigoram por aqui…

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Escrito por Juliana Santiago

Nunca comprou melhorias no Candy Crush.