Dia das Mães – 24 horas depois, mãe

8 de maio de 2015 | Escrito por Filipe Teixeira | Autores convidados

por Camilla Lopes, de Montreal, Canadá.

Este é o primeiro Dia Das Mães com meu Bernardo nos braços. Ele nasceu no dia 15 de maio de 2014, em Montreal, no Canadá, onde moro com meu marido há 4 anos. Durante toda a minha vida, sonhei com este momento, mas nunca tinha cogitado ter um parto normal. Na verdade, antes de engravidar, nunca parei para pensar sobre os tipos de parto, mas como no Brasil tudo termina em cesárea, na minha cabeça esta seria a opção mais viável. Como o meu pequeno ia nascer no Canadá e por aqui só vai para cesárea quando a mãe ou o bebê está em risco, precisei mergulhar no mundo do parto normal. Pesquisei, li vários livros, me preparei. O Governo do Canadá oferece cursos de preparação para o parto e os cuidados necessários com o bebê. Foram 7 semanas de encontros e muito aprendizado. Me apaixonei pela possibilidade de parir.

Meu único receio era que não poderia receber anestesia, pois já fiz duas cirurgias na coluna. Os anestesistas da minha equipe médica me examinaram e não quiseram arriscar me dar a peridural. No Canadá, quando a mulher chega a 4 cm de dilatação, ela já pode solicitar a anestesia. Mas no meu caso foi diferente, eu não poderia ser anestesiada. Eu sai da zona do “conforto” do parto cesárea, para o parto normal e sem anestesia. Tive 40 semanas para aceitar e, apesar de ser minha única opção naquele momento, foi minha melhor “escolha”.

Minhas contrações começaram no dia 14 de maio, por volta das 2h da manhã, e Bê nasceu às 23h45 do dia 15 de maio no Hospital Royal Victoria, com 39 semanas e 5 dias de gestação. Foram cerca de 45h de dor. Uma dor tão grande que me levou ao meu limite e me impediu de fazer todas as técnicas que eu tinha aprendido para amenizar a dor. Eu só queria ficar deitada. Foram quase 24h em cima da cama do hospital, sem poder comer, mas com o coração cheio de amor. As 24h mais longas e dolorosas da minha vida. Estava acompanhada do meu marido, do meu pai, da minha mãe e da minha cunhada, que se revesavam na saga de aguentar comigo aquela espera.

A equipe médica foi espetacular. As enfermeiras que me acompanharam são anjos. O hospital possui uma excelente estrutura para o parto normal. Eu e Bernardo estávamos monitorados e a todo momento um médico, residente ou enfermeira estava ao meu lado, me incentivando, me dando forças e me tranquilizando. Cheguei aos 10 cm de dilatação às 21h. Ele veio ao mundo às 23h45. Foram quase 2h45 de empurra-empurra, de muita ansiedade e muito, mas muito amor. Bernardo Almeida Tabosa nasceu com 3,670 kg e 52,5 cm, no momento, dia e horário em que ele escolheu para vir ao mundo. Veio direto para o meu colo, mamou e não saiu mais de perto de mim. No Canadá, se o bebê não tiver nenhuma complicação, ele fica junto com a mãe desde o primeiro momento. O banho é dado do quarto, a equipe médica vem até a gente para examinar.

Em menos de 48h, eu já estava em casa com nosso Bê. Na primeira semana, recebi duas vezes a visita de uma enfermeira em minha residência. Elas analisam o espaço do bebê para verificar se está adequado para ele, ajudam com a amamentação, pesam e medem o bebê, além de orientar a mãe para não esquecer de cuidar de si. Esse suporte do Governo canadense não tem preço.

Hoje paro para refletir e vejo como Deus preparou tudo com muito cuidado em nossas vidas. Precisei ir para o Canadá para superar os meus limites, para descobrir o mundo do parto normal, para parir e sentir o maior amor do mundo. A preparação, o cuidado e o suporte que tive do Governo canadense durante e após a gravidez foram essenciais para tudo correr com tranquilidade. Ter um filho fora da zona de conforto, em outro país, em outro idioma, longe da família e amigos não é fácil. Mas o amor é tão grande e inexplicável que qualquer dificuldade torna-se pequena nessa imensidão e mistura de sentimentos que envolve a maternidade.

Clique aqui para ouvir a entrevista que a Camilla concedeu ao O Nome Disso É Mundo.

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Escrito por Filipe Teixeira

Escritor amador e ansioso profissional.