Com gosto de África – O que aprendi com ela

13 de março de 2015 | Escrito por Filipe Teixeira | Autores convidados, Diário de viagem

por Rafael Feltrin, de São Carlos-SP, Brasil

Talvez desde pivete, assistindo aos documentários do antológico Planeta Terra, da TV Cultura, o indivíduo que vos escreve já havia despertado uma sensação de fascínio pela África, num todo. Minha imaginação me teletransportava para àquelas paisagens magníficas, safáris e afins; sim, todo o contexto “clichê” de África que arrebata nosso inconsciente quando ela nos vem à cabeça. (Ainda mais numa criança encantada pelo filme O Rei Leão, o que fazia isso ser, praticamente, um brainstorm sem fim). “Um dia eu quero ir pra lá” – fazia questão de repetir mil vezes enquanto via um leão correndo atrás de uma hiena ou algumas girafas correndo sob o pôr-do-sol na savana.

Alguns anos depois, dito e feito: entre algumas idas e vindas pelo mundo, havia chegado a hora dela – e não estou falando do leão, nem da hiena – lembro como se fosse hoje, no dia 4 de Janeiro de 2008, às 17h10, sentado na sala de embarque do aeroporto de Guarulhos, aguardando meu voo com destino à Joanesburgo, para um curso na Universidade local e posteriormente uma extensão para Cape Town. Melhor impossível; o pivete fascinado pela África estava a poucos minutos de ter uma das melhores experiências da sua vida, que além da realização de um sonho, viria a ser um amadurecimento único.

Um pouco familiar

África

Joanesburgo. Jo’Burg para os íntimos.

Chegando a Jo’Burg (só para os íntimos), me deparei com a cidade de São Paulo, um pouco mais tumultuada, mas com um trânsito menos caótico. “Hey, be careful to walk around bro, I advice you to get a taxi if you want to go somewhere” – foi a frase de boas-vindas que ouvi de um residente, que me aconselhou a “não ficar perambulando a pé na metrópole e sim pegar um táxi caso fosse a algum lugar”, enquanto aguardava minha bagagem na esteira. (Claro que convém esse tipo de informação, afinal eu estava desembarcando em uma das cidades mais violentas do mundo, mas, para quem está acostumado com São Paulo, noção de segurança não é nada que a gente não saiba).

Joanesburgo não para, por nada. A maior cidade da África do Sul tem horários de pico que me lembravam a Av. Paulista, com músicos em algumas esquinas tocando saxofone, mas por incrível que pareça, eles são respeitados e admirados no meio do caos que estiver rolando (diferentemente de São Paulo). Monumentos e lugares repletos de história, o museu do Apartheid – um bom banho cultural de um país que sorri todas as vezes que pronuncia o nome “Nelson Mandela”; pubs e festas de música eletrônica numa terça-feira típica; Joanesburgo era fantasticamente imprevisível aos olhos de quem estava descobrindo aquele gosto. E claro, como de praxe, referências ao futebol brasileiro em todo lugar que eu entrava vestindo uma camisa da seleção.

África

Cidade do Cabo.

Já na Cidade do Cabo, cheguei à conclusão de que havia encontrado o paraíso. Sem demagogias ou exagero – entre todos os lugares que já conheci, nada se compara à energia daquela cidade, não somente pela beleza, mas também pelo clima, o astral e entusiasmo de todo mundo que mora lá. Esse lugar é daqueles que tem uma certa mágica, um tanto subjetiva, que te faz querer sentar na areia da praia e pensar “isso é o que eu quero da vida” e agradecer infinitamente a Deus por aquilo.

Devido a uma geografia privilegiada, a cidade é colorida num azul de céu e mar que se confundem; areia branca e casas de verão perto de grandes rochas, onde vez ou outra recebem a visita de pinguins. A Cidade do Cabo é cativante, desse jeito mesmo. E não há preço ou valor algum que pague o sol nascendo entre aquelas montanhas. E eu fui abençoado ao trazer aquilo pro meu mundo. E meus sonhos da época de pivete também me agradeciam a cada sol que nascia e se punha. Vivendo lá, o roteiro foi muito além dos sonhos, Moçambique, Zimbábue; claro que o “ex-pivete” foi parar onde sempre quis: no meio da savana, vendo leões, búfalos, elefantes e tudo o que seu coração tinha guardado há anos. Também conheci o outro lado da moeda chamada África, que não existia nos meus sonhos quando assistia ao Planeta Terra na TV, quem dirá a O Rei Leão. Vi o racismo explícito – muitos reflexos do Apartheid que existem até hoje -, a pobreza extrema, vi um lugar onde o contraste social é desumano, o que me tornou muito mais humano, me fez olhar para dentro.

África

Não é um lugar perfeito; porém, no fim das contas, a África me rendeu muito além do que eu imaginava. Nessa equação de aprendizado, o autoconhecimento e a sensação que esse tal continente me proporcionou são coisas que eu já guardei pra sempre. É onde eu já deixei boa parte de mim. Assim, no dia em que voltar, quem sabe aquele pôr- do-sol esteja mais bonito ainda.

Rafael Casagrande Feltrin é um paulista de 26 anos, que já teve o privilégio de ganhar como seu “quintal de casa”, algumas das paisagens e praias mais belas do mundo: Tailândia, Malásia, Indonésia, Cingapura, China, África do Sul, Moçambique, Ilhas Maurício. Sim, exatamente aqueles fundos de tela do Windows típicos que nos pegam numa segunda-feira bem xarope, desejando-os incondicionalmente. Cursou Direito, Administração e atualmente estuda Comércio Exterior, na perspectiva de descobrir muito mais do que já viu ou do que imagina. Pretende se mudar em definitivo do Brasil no próximo ano, para alçar um voo permanente nos quatro cantos do mundo.

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Escrito por Filipe Teixeira

Escritor amador e ansioso profissional.