Chisinau, a capital da Moldávia

6 de março de 2015 | Escrito por Filipe Teixeira | Autores convidados, Diário de viagem

por Kiki Costa, de Porto, Portugal.

De mini-bus, vindo de Bucareste, são de 7 a 8 horas até Chisinau. Para mim, é nas viagens de mini-bus que a verdadeira acção acontece. Há sempre um leque vasto de entretenimentos: um carro para rasar, uma faixa para inventar, um precipício para desafiar – muitas vezes (ou quase sempre) – feitos em autênticos “machimbombos”.

Desta vez as coisas foram um pouco diferentes. O mini-bus tinha ar condicionando, um televisor a passar filmes, um aparelho a mandar bons cheirinhos para o ar de 15 em 15 minutos e um condutor maluco (esses são sempre garantidos). Bati palmas de satisfação na iminência de algum conforto. A viagem custa perto de 16 euros (ida). Existem algumas companhias a operar, pelo que tendo o número delas, podes sempre ligar a perguntar horários e “reservar” o teu lugar. Deves sempre chegar antes da hora indicada pela senhora das informações ou motoristas, visto que a hora fornecida é meramente indicativa. O mini-bus, uma vez cheio, parte.

Como seria de esperar éramos, os únicos turistas a fazer esta viagem. Sentia a curiosidade dos demais, que sorriam e tentavam adivinhar o que nos levaria àquelas paragens. O Vitaly foi uma dessas pessoas curiosas e simpáticas que nos abordou. Tinha vinte e poucos anos, falava inglês e já tinha trabalhado em Espanha, pelo que o relacionamento foi fácil.

chisinau

Falo do Vitaly porque ele foi sem dúvida uma das pessoas mais prestáveis e generosas que conheci nesta viagem. Ele, aquando da nossa chegada a Chisinau e para nos indicar o caminho, veio connosco até ao nosso hostel e pagou-nos inclusive as viagens de autocarro.

A chegada a Chisinau trouxe-nos sentimentos ambíguos:

  • A primeira impressão é de uma cidade pobre;
  • A segunda é: “isto é a capital de um país?!”

A cidade é mais pequena do que tinha imaginado, e mais verde também. O que é sempre bom. Mais tarde fiquei a saber que Chisinau é umas das cidades mais arborizadas da Europa.

Chisinau, ou Kishinev, como era chamada durante a ocupação soviética, é a capital da Moldávia Independente. A sua população é principalmente de etnia moldava/romena (74%), russos, ucranianos e búlgaros. Esta diversidade pode ser explicada pela sua história. Em 1982, a cidade foi ocupada pelos russos. Mais tarde pelos romenos. Após o final da 2ª Guerra Mundial, Chisinau, ficou como sendo Capital da República Socialista Soviética da Moldávia.

Chisinau é uma cidade estranha e “diferente” das outras cidades onde já estive. A cidade é pobre. Para além da simpatia das pessoas, pouco existe. Senti desde o primeiro minuto uma tensão diferente no ar. Foi a primeira cidade em que sentia receio de passear à noite pelas ruas. Uma espécie de tensão pairava no ar. Mais tarde, em conversa com a “rapariga do hostel”, ela confirmou-me que a cidade não é assim tão segura. À noite não existe praticamente iluminação, pelo que é necessário andar sempre com uma lanterna.

Outra coisa que me impressionou foi a quantidade de casamentos que se vêem por aquelas bandas. Só num dia vi para cima de 5. E são bastante diferentes dos nossos. Para além de a maioria da população ser ortodoxa, eles não vão em modas: convidados nunca mais de 15 ou 20 pessoas, as fotos são para a noiva (o noivo fica de fora a olhar e a segurar no raminho de flores da sua donzela) e a decoração dos carros é a que se segue.

chisinau

Ficamos alojados no “Retro Moldava Hostel”. O hostel tinha o custo de €15/noite, sendo um preço justo pelas condições que oferece. O hostel estava cheio e era bastante acolhedor. Caso pensem em escolher este hostel, não se deixem intimidar pelo aspecto exterior do prédio, que está muito degradado (!) Confirmem a vossa reserva porque, ao chegarmos, não tínhamos quarto, e digamos que lá a escolha não é muita…

O problema é que tínhamos feito uma alteração da reserva que os “baralhou” um pouco (falta de comunicação entre staff) e isto levou-nos a umas boas 2h de espera até termos o nosso quarto.

Instalados e de banho tomado, seguimos então para jantar num restaurante recomendado pela recepcionista do hostel. Mas ele ficava longe e só quando lá chegamos é que percebemos que fazia parte da cadeia Andy’s Pizza (afinal de contas, ainda só tínhamos passado por 2 pelo caminho, um deles a escassos 500 m do hostel). Voltamos para trás e jantamos numa pizzaria barata no centro de um dos parques centrais. Uma pizza suficiente para 2 pessoas, feita com ingredientes frescos, saborosa e com bom aspecto, custava por volta de €3.

Depois de jantar, seguimos à procura da noite inexistente. Mais uma vez, a gentil senhora do hostel indicou-nos uma rua que supostamente estaria repleta de bares, restaurantes e discotecas. Não encontramos mais do que 2 ou 3 restaurantes, ora com mau aspecto, ora com aspecto de serem caros, 2 ou 3 tascas e nada de discotecas. Compramos então umas cervejas (meio litro, 12 lei – menos de €1) num quiosque e regressamos desanimados ao hostel.

À chegada, oferecemos ao funcionário da noite, um rasta ucraniano, uma cerveja que ele prontamente aceitou. Perguntamos pelos bares e discos, e ele insistiu que estes estariam abertos (afinal de contas era sábado à noite), embora tenha admitido que parte deles fecham no verão. Ponderamos regressar para mais uma busca, mas, conversa puxa conversa, e acabamos por ficar até ao amanhecer na conversa com o Mark e com a gentil senhora, cujo nome não me recordo de todo!

No dia seguinte, acordamos cedo e fomos dar uma volta pela cidade. Era domingo, e dêmos de cara com fantástica feira de artesanato e produtos locais. Aproveitamos para comprar algumas coisas para nós, mas infelizmente com preços bastante inflacionados por sermos turistas – diabretes(!).

É de salientar que a cidade está organizada por 5 sectores, sendo que alguns mostravam sinais de extremo abandono.

No final da tarde, e debaixo de um calor tórrido, começou a chover de forma absurda. Fomos para o hostel. Jantámos por lá e passamos um bom serão a jogar cartas e a ouvir a chuva cair. Era hora de ir dormir porque tínhamos que acordar cedo para apanhar o comboio para Tiraspol. Um outro rapaz do hostel preparou-nos um banquete para o pequeno almoço: cereais, café, sumo, ovos cozidos, manteiga, compotas e torradas – isto às 6h30 da manhã!

Apanhamos o táxi com mais duas hóspedes do hostel que iam para Odesa e lá fomos nós. Do hostel para a estação de comboios, ficou por 1,25/ pessoa. Por fim deixos-vos uma foto da “polícia fronteiriça”.

chisinau

Catarina Costa, para alguns a Kiki, tem 28 anos e nasceu na ilha de S. Miguel. Atualmente vive na cidade do Porto. Aos 18 anos foi viver e estudar Engenharia do Ambiente na cidade de Coimbra. Tem duas irmãs, um irmão e dois gatinhos amarelinhos. Uma das suas maiores paixões é cozinhar para os seus. Contudo, a sua derradeira paixão é viajar! Só assim sente-se verdadeiramente feliz e completa. Um dos seus sonhos é dar uma volta ao mundo com o Paulo. Leia outros textos da Catarina no blog Mochileta.

Deixe um comentário

Escrito por Filipe Teixeira

Escritor amador e ansioso profissional.