Atravessando a rua em diversas partes do mundo

26 de janeiro de 2015 | Escrito por Filipe Teixeira | Dicas

por Juliana Santiago, de Díli, Timor Leste.

Atravessar, cruzar, chegar ao outro lado. Esse movimento de quem se desloca a pé às vezes pode exigir mais do que o simples reflexo de olhar para os dois lados: ter um pouco de malícia, instinto, flexibilidade e até mesmo negociação gestual são exemplos dessa exigência. E, de repente, o que parece ser um mero ato de mobilidade acaba por representar um relevante traço cultural de uma comunidade.

A partir de agora, esqueça tudo o que você aprendeu atravessando a rua na sua cidade, pois neste tópico, veremos que a conduta que te leva ao outro lado é bastante variável de lugar para lugar (tomando por exemplo 8 dos lugares em que estive) e iremos descobrir que organização é um conceito mais relativo do que imaginamos.

Singapura, Singapura

A cidade-estado símbolo da modernidade possui, de modo geral, extrema organização nesse sentido. Há que se atravessar na faixa e quando o sinal do pedestre estiver verde. Para isso, deve-se apertar o botão e esperar. Em outras palavras, não basta o semáforo dos carros fechar para o pedestre passar. Há cronômetros tanto para o pedestre quanto para os carros. E, acreditem, todos esperam! Um ou outro atravessa um pouco antes do tempo, mas é realmente um costume obedecer a isso. E sempre há uma grande leva de pedestres a atravessar todo juntos e de uma só vez.

Hanói, Vietnã

atravessando a rua

Atravessar a rua em Hanói foi uma das aventuras mais radicais do meu mochilão pelo Sudeste Asiático. O trânsito lá é altamente imprevisível e atravessar a rua requer muito mais jogo de cintura que em qualquer outro desses lugares aqui descritos. Isso porque o povo de Hanói praticamente cresce sobre rodas, adquirindo uma noção de espaço e reflexo para o trânsito impressionantes. Assim, há muitos veículos (principalmente motos e bicicletas elétricas) aproveitando absolutamente TODOS os espaços vazios da pista (e às vezes, da calçada); não há semáforos em grande parte das vias urbanas e, quando há, nem sempre há obediência (fato motivo de piada entre a própria população) e todos se movimentam numa constante, de modo que, se você quiser atravessar (um dia), aí vão as dicas: não fique parado, vá aos poucos entrando no meio do tráfico e driblando veículo por veículo com a mão (mãozinha mágica da Ásia*); reflexo redobrado, pois pode vir veículo de todo e qualquer lado. E, principalmente, saiba: dificilmente pararão para você passar, no máximo, podem desviar de você. Nem tampouco vão te atropelar. Imagine-se como uma peça do fluxo e vá.

Ho Chi Mihn, Vietnã

A antiga Saigon é a típica cidade grande. Imensa e intensa. As pistas nas vias urbanas são largas e, comparado a Hanói, o trânsito tem muito mais organização (e obediência ao semáforo). As únicas ressalvas são: quando encontrar uma faixa de pedestres, espere com calma porque vale a pena. Caso não encontre, quem não está acostumado, vai sofrer pra atravessar, pois os veículos andam em velocidade mais alta, as ruas são mais largas, a negociação com olhares é bem mais difícil. A dica é pegar o embalo com quem já é dali e está atravessando.

Siem Reap, Camboja

O trânsito é composto de motos, carros e os populares tuk-tuk (uma moto com um anexo atrás, como se fosse uma carruagem de moto). Atravessar a rua em Siem Reap é negociável. O fluxo do trânsito é mais lento, as pistas são largas e em geral é bem tranquilo. Lá, a mãozinha mágica da Ásia funciona. Não há tantas faixas de pedestres assim, mas há um bom tato entre pedestre e motorista que facilita atravessar. Outra ressalva é que Siem Reap é uma cidade bastante turística, de modo que até o trânsito (com alas noturnas para pedestres, por exemplo) converge em prol do pedestre.

Macau, Macau

Macau é bastante correta em relação ao uso da faixa e bastante justa com o tempo cronometrado para pedestres. É comum encontrar faixas sinalizadas nas vias mais movimentadas. Em vias divididas por meio-fio e em frente aos pontos de ônibus, caso você venha a atravessar desavisadamente, os motoristas param. Atravessar rotatórias lá foi a única coisa complicada. No mais, é difícil ver alguém atravessando fora da faixa em vias mais movimentadas.

Bali, Indonésia

atravessando a rua

A turística Bali é um mix de pistas, vielas estreitas e estradas longas. Em Kuta, onde o fervo acontece, a oferta de táxi, motocicletas e até carruagens com tração a cavalo é muito grande. Há muito engarrafamento nas vias que dão acesso às prais. Atravessar a rua, principalmente à noite, requer atenção, pois motos costumam “surgir”. Um leve contato visual com o motorista costuma ajudar. Em Ubud, por ter mais estradas e pistas, a velocidade dos veículos costuma ser maior, o que faz de atravessar a rua um misto de oportunidade e paciência.

Cusco, Peru

Cusco, pelo caráter turístico, montanhoso e cheio de escadas de suas ruas, acaba sendo uma cidade praticamente para pedestres. Os poucos carros que existem ali são de agência de turismo, que estão apenas prestando serviço de transfer para os sítios arqueológicos mais distantes. No mais, tudo em Cusco é pertinho. Além de haver muitas praças, construções antigas, bares, artes na ruas que te fazem querer parar o tempo todo, há muitas vielas estreitas, escadarias e ladeiras, de modo que carros não têm muita vez. Curiosamente, também há poucas motos e bicicletas.

Díli, Timor-Leste

Atravessar a rua na capital timorense é assim: você espera. Os carros e motos parecem que não vão te deixar passar, mas, ao chegarem quase em cima de você, eles começam a reduzir a velocidade. É quando você pensa em passar. Aí lembra que na outra mão, a moto ou carro pode estar desavisado que há um pedestre passando. Então, de duas uma: ou você atravessa e fica no meio da pista tentando negociar com o próximo motorista (que nem sempre faz contato visual com você), ou você espera em segurança na calçada (o que pode levar uns 10 minutos do seu dia, em média).

Juliana P. Santiago é viciada em café, jogos casuais e arrumar o quarto. Mestre em Linguística, trabalha com ensino de Língua Estrangeira desde 2008 e por esse motivo morou na Colômbia, no Brasil e agora em Timor-Leste, explorando esses lugares proporcionalmente ao tempo e ao dinheiro que teve em cada época. Recentemente empreendeu um mochilão pelo Sudeste Asiático de 35 dias, conhecendo 10 cidades entre os países Indonésia, Singapura, Vietnã, Camboja e China. Todas as fotos são de seu arquivo pessoal.

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Escrito por Filipe Teixeira

Escritor amador e ansioso profissional.