Cova do Vapor – Onde o Tejo se faz ao mar

11 de novembro de 2014 | Escrito por Filipe Teixeira | Diário de viagem

Se meu corpo fosse um país, o sistema de governo seria o Sedentarismo, já disse isso várias vezes. Mas tem dias que eu saboto minha própria filosofia de preguiça e arrisco me mexer além de ir à cozinha pegar Nutella. Normalmente, quando isso acontece, é alguém que me leva. Foi assim que eu descobri a Cova do Vapor, um lugar muito bonito e que provavelmente não irá figurar nos guias turísticos de Lisboa.

A Jamille veio me visitar. Era março de 2013. Ainda era inverno, mas os dias eram de sol. Escolhemos o sábado para fazermos o tradicional passeio a Belém, onde comemos o famoso pastel e, lá para o meio da tarde, encontramos o Daniel e a Carol, outros dois amigos dela. E foi aí que tive um dos meus raros momentos de mobilidade, quando o Daniel sugeriu irmos à Cova do Vapor.

cova do vapor

Assim que você olha para esse barco, Jorge Drexler começa a cantar na sua cabeça.

Mas antes um pequeno guia de como chegar a Belém, desde Lisboa: vá para a estação de metrô Cais do Sodré, uma das estações terminais da linha verde. De lá, há três opções de como ir a Belém.

1. Elétrico 15: é o que nós conhecemos como bonde. Vale pela experiência, já que é um dos cartões postais de Lisboa. E se você é hipster, esse é o meio de transporte ideal. O problema é que é muito pequeno e normalmente está cheio. Mas há umas versões maiores, articuladas, porém sem o mesmo charme. O ponto de descida é ao lado do Mosteiro dos Jerônimos.

2. Ônibus 728: embora seja muito mainstream, é mais confortável que o elétrico tradicional, mas não tanto quanto o mais moderno. O ponto de descida também é ao lado do Mosteiro.

3. Trem: nem é preciso sair da estação de metrô. Lá dentro mesmo há uma conexão para a estação de trem. É o método mais rápido, mas é o transporte que tem os maiores intervalos entre uma partida e outra. Aí é uma questão de sorte. O ponto de descida é a estação de Belém. Parece, mas não é tão óbvio assim.

Voltando à história, o plano do Daniel era cruzarmos o rio e pedalarmos até a Cova do Vapor. Para fazer sentido o verbo pedalar da frase anterior, alugamos as bicicletas no BelémBike. Há vários tipos de bicicletas, inclusive as tandem, aquelas com duas selas, e o pessoal é bastante simpático. Tendo alugado as bikes, fomos para a Estação Fluvial de Belém. Com o mesmo bilhete usado no metrô e no elétrico/ônibus/trem, é possível comprar a passagem para atravessar o rio de barco. E como é um transporte público, é bem barato. Além disso, não é cobrado nenhum valor extra pelas bicicletas. O barco para primeiro em Porto Brandão, mas o nosso destino é a segunda parada, em Trafaria, onde o Tejo se faz ao mar.

cova do vapor

Vista do rio a partir do calçadão – Trafaria.

Saindo da estação, seguimos pedalando pelo calçadão, acompanhando a orla, até que chegamos à ciclovia, na Av. Gen. Moutinho. A partir daí basta seguir a ciclovia. O lugar é bem tranquilo, quase não há trânsito. Mas atenção porque a ciclovia muda de lado em determinados pontos da Avenida Afonso de Albuquerque. Seguimos por essa avenida, contornamos 90 graus à esquerda na rotatória e continuamos até o primeiro entroncamento, onde a avenida encontra a Estrada da Raposa. Logo antes de chegarmos a essa estrada, há placas indicando a direção das praias e da Cova do Vapor. O trânsito deixa de ser tranquilo e passa para a categoria “quase inexistente” nessa área, porém a atenção deve ser redobrada devido à falta de ciclovia.

Seguimos pela Estrada da Raposa até chegarmos a uma avenida perpendicular, chamada António Martins Correia. Não tem placa alguma indicando o nome da avenida, eu acabei de ver no Google Maps. Mas como é a única avenida perpendicular à Estrada, não tem muito erro, quando chegar lá, vire à esquerda. Pedalamos por essa avenida, com o Tejo já se misturando ao mar à nossa direita, até chegarmos a uma vila, onde fomos recebidos com a placa “Bem-vindo à Cova do Vapor”. Continuamos mais um pouco pela mesma rua, que se transforma numa ruazinha, até que chegamos à praia.

cova do vapor

Vista do Farol do Bugio desde a praia da Cova do Vapor.

Tivemos uma ideia meio tola de levarmos as bicicletas pela areia até o quebra-mar, mas das outras vezes que fui (com outras pessoas, em outras estações), deixamos as bicicletas na rua mesmo, acorrentadas umas às outras. Desde o quebra-mar, podemos ver mais de perto o Farol do Bugio lá ao fundo. É uma imagem muito bonita, principalmente quando o sol está perto de se pôr, e a água fica dourada.

Como essa atividade física toda já começava a pôr em dúvida meu sedentarismo, fiz minha parte e convidei a todos para uma cerveja no Transmontano, um bar que fica na mesma ruazinha a caminho da praia. Então, devidamente abastecidos, fizemos o caminho de volta até Lisboa.

Dica de música para escutar durante a travessia: “Al Otro Lado del Río”, de Jorge Drexler.

Deixe um comentário

Escrito por Filipe Teixeira

Escritor amador e ansioso profissional.