Dia das mães – Mãe é mãe no Brasil ou na China

11 de maio de 2014 | Escrito por Filipe Teixeira | Autores convidados

por Christine Marote, de Xangai, China.

Tenho certeza de que, para quem é mãe, a maior preocupação quando decidimos ir morar no exterior é a adaptação dos filhos. Cada qual com a sua idade e as dificuldades que isso implica.

No ano em que viemos para a China, meus filhos tinham 14 e 17 anos, uma das fases mais complicadas para mudanças tão radicais, como morar em outro país. Viemos apreensivos, porque o mais velho não queria vir. O mais novo estava todo feliz e animado e por isso acabamos focando mais na adaptação do outro.

Para nossa surpresa, e apesar de todas as dificuldades de ter que ir para uma escola internacional no final do Ensino Médio sem falar inglês, aos poucos ele foi se adaptando e aprendendo o idioma. Em seis meses olhou para nós e disse: “se vocês voltarem para o Brasil, eu fico!”.

Já o que, aparentemente, estava feliz e cheio de expectativas teve uma dificuldade imensa na adaptação. Em menos de dois meses mudou de escola, pois não se adaptou na primeira que colocamos os dois, teve dificuldade em fazer novas amizades e não queria sair de casa por nada desse mundo. Com a mudança de escola e a adoção do tão sonhado cachorro (ele me pedia um desde pequeno), as coisas foram melhorando, mas muito devagar. Cheguei até a ouvir dele: “vocês estão tentando me comprar para ficar aqui”. Não foi fácil.

Por conta disso, decidimos não voltar ao Brasil nas férias de verão (que aqui é em julho e agosto), já que era quando as coisas estariam começando a se assentar e uma visita ao Brasil, com os mimos de família e amigos e o excesso de atenção que sempre recebemos quando estamos lá (que é uma delícia, por sinal), sabíamos que ele iria confundir isso com a vida real e teríamos que partir do zero na volta.

Sem sombra de dúvidas, essa foi a decisão mais acertada que tomamos. O Octavio tinha (e ainda tem) amigos que cresceram juntos, desde a educação infantil, e se acostumar a viver sem eles foi muito difícil. Quando terminou o IB (equivalente ao ensino médio, no Brasil), pensamos que iria querer voltar. Mas não. Optou por fazer Universidade aqui. E, até onde eu sei, os planos de voltar são meio remotos.

O mais velho, depois que terminou a escola, ficou um ano estudando numa universidade em Hong Kong, mas decidiu voltar para a China. Ele adora viver aqui e diz que pretende ficar enquanto der.

No final de tudo, posso dizer que o saldo foi positivo. Hoje eles falam três idiomas (apesar de o mandarim não ser fluente), têm amigos pelo mundo e conseguem enxergar a vida por outro prisma.

Como mãe, além dessa perspectiva de mundo, que não teriam com a idade deles se estivessem no Brasil, o maior ganho foi a tranquilidade. Não que não haja “perigos” aqui e jovens são jovens em qualquer lugar do mundo. Mas ao menos tenho a certeza de que ninguém vai sequestrar meu filho, machucá-lo ou dar um tiro nele por conta de um tênis ou um boné.

Sempre tento acalmar a ansiedade das mães que estão chegando. Quanto menor a criança, menos ela sofre e mais rápido aprende o idioma (no nosso caso, os idiomas – inglês e mandarim). Fico impressionada em ver como os pequenos conseguem aprender tão rápido. Geralmente em dois meses eles já estão se comunicando com todos e em seis meses já estão falando de trás para frente os dois idiomas. A carga horária escolar também é um fator que os deixa muito cansados no início. As aulas são das 8h às 15h30 todos os dias, e muitas vezes eles ainda têm as atividades extracurriculares, que são realizadas após esse período.

O importante é saber que fórmulas não há. Cada um é um e as reações são diferentes. O que precisamos é ter olhos mais aguçados para entender os sinais que eles nos passam sobre a nova rotina. É ter paciência durante o período de adaptação e, principalmente, transmitir segurança a eles.

Todos estão fora da zona de conforto! Mas tenho visto nesses anos aqui que, quando a mãe fica depressiva e demonstra essa insatisfação (muitas vezes a revolta com a mudança), o processo de adaptação é muito mais doloroso. E não só para as crianças: a família toda se desestrutura. Pode parecer perverso, mas a hora da mudança e da adaptação requer das mães uma força triplicada para suportar as necessidades de todos, incluindo as suas.

Outra coisa que sempre recomendo quando as pessoas fazem contato comigo é para arrumarem uma atividade em beneficio próprio. Um curso de inglês ou mandarim, ou os dois, um trabalho voluntário, qualquer coisa que traga a sensação de satisfação, de que todos estão crescendo juntos.

Muitas mulheres (e esse foi meu caso também) param de trabalhar para mudar de país, e isso causa um vazio imenso, uma frustração, por mais consciente que seja a tomada de decisão, ela era abstrata. Somente quando mudamos, arrumamos a casa, colocamos as crianças na escola e o marido sai para trabalhar, a ficha cai! E agora, o que sobrou para mim? O que fazer com o meu dia, sem a rotina regrada do “sair para trabalhar” e dar conta de todo o resto.

Aí descobri por que algumas pessoas dizem que, quando precisamos de uma ajuda, um favor, devemos pedir para a pessoa mais ocupada que você conhece. Certamente ela vai arrumar tempo para te ajudar. Quando ficamos sem a “abençoada rotina”, nos perdemos no tempo, o supermercado que antes era feito no intervalo do almoço, depois de deixar as crianças na escola, agora leva umas 3 horas e ainda voltamos para casa sem a lista completa.

Quando decidi que iria pedir demissão para acompanhar meu marido, prometi a mim mesma que, se era para mudar, tinha que ser uma mudança que me fizesse crescer e não estagnar. E hoje, ao olhar para trás, estou satisfeita com o que construí, mas sei que ainda tem muita coisa para acontecer.

Agora o importante é saber que nada acontece da noite para o dia. Não temos varinha de condão, somos de carne e osso e temos que nos respeitar. Nos primeiros meses, realmente o esforço é focado na adaptação da família e nas perspectivas que teremos. Algumas pessoas entram em uma espécie de luto, e isso tem que ser vivido (desde que seja com foco no futuro) e olhado como uma fase, que vai passar e te dar mais força e equilíbrio.

Vai haver os dias de se trancar no quarto e chorar até não poder mais, mas também chegará o dia em que, olhando para trás, você sentirá orgulho de ter superado suas próprias expectativas. E isso é gratificante, acredite.

Lembre-se de que quando usamos as adversidades como uma mola de impulso ao invés de usá-la como uma âncora que nos limita, os resultados sempre serão compensadores para você e sua família.

Leia mais textos da Christine aqui e aqui. E aproveite para ouvir a entrevista que ela concedeu a O Nome Disso É Mundo. Este é o terceiro e último texto da série sobre o Dia das Mães no Exterior. Os outros são da Carolina Szabadkai, que mora na Hungria, e da Carla Al Masri, que mora no Líbano. 

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Escrito por Filipe Teixeira

Escritor amador e ansioso profissional.