A saudade também é de quem vai

3 de junho de 2012 | Escrito por Filipe Teixeira | Diário de viagem, Oreo - Eu na Colômbia

Eu sempre disse que a saudade é de quem fica. Experimentei isso quando fui pra Colômbia. Deixei Fortaleza com o mesmo ar de até-que-enfim que a Carlota Joaquina deixou o Rio de Janeiro. Parecia que eu tinha me livrado desse lugar, do calor e da depressão que minha cidade me causa. Senti falta dos meus amigos, sem dúvida, em Medellín, mas a cidade em si e minha vida na montanha aliviavam a saudade e às vezes me davam até a sensação de que o passado em Fortaleza foi um livro muito bom que eu li, de cujos personagens eu tive saudade, mas tive também a certeza de que não estaria mais em sua companhia.

As Calçadas

Mas a sensação de viver as últimas semanas em Medellín fez com que eu negasse minha própria teoria. A saudade também é de quem vai. Tive o primeiro sinal de como a cidade da eterna primavera ia me fazer falta num dia nublado e frio, dia cuja noite anterior foi chuvosa e que deixou as calçadas úmidas e as folhas orvalhadas até tarde da manhã. Voltando do ILP pra casa e pisando naquelas mini-poças d’água, realizei no meu coração que aquele caminho eu ia repetir só mais algumas vezes, que eu iria deixar aquela paisagem tão aconchegante em alguns dias.

Então por que Não Ficou Se É Tão Bom?

Uma coisa que aprendi na AIESEC (a Organização que tornou possível minha ida à Colômbia) foi deixar minha zona de conforto. Mas nos pouco mais de quatro meses que passei em Medellín, percebi que eu nunca estive tão confortável. A vida com a Karol e o Manuel, as aulas no ILP, o clima sempre agradável da cidade, a paisagem de montanha que eu sempre amei, a amabilidade dos paisas fizeram com que eu, agora sim, estivesse na minha zona de conforto. Por isso, procurei outro intercâmbio.

Lisboa

Como o Vinny Santos disse, tem uma hora em que as pessoas “te cobram a Europa”. Não necessariamente por isso, procurei vagas na Europa na plataforma da AIESEC. Achei várias pra ensinar inglês, principalmente na Turquia, que era minha primeira opção. Encontrei uma na Espanha pra trabalhar com tradução com salário de 2.100 euros, mas obtive resposta apenas de uma vaga em Portugal. E em mais ou menos um mês eu estava com a vaga garantida em Lisboa pra trabalhar na Glossarium, uma empresa que trabalha com tradução de softwares. Com a certeza de morar na Europa veio a certeza de deixar Medellín, a segunda cidade mais bonita que eu já vi na vida (porque nenhuma cidade do mundo ganha do Rio de Janeiro).

Primeiro o Vini

Duas semanas antes de mim, o Vini Lucena foi embora. Ele conseguiu uma vaga pra trabalhar na AIESEC Malta e eu fiquei muito contente em saber que poderemos nos encontrar no Velho Mundo. Mas a parte pior da ida dele foi que esse fato foi uma prévia da minha despedida. Passei o dia down, sem conseguir digerir o fato ou qualquer alimento que engolisse.

O Fim

No meu último dia no ILP, dei uma palestra sobre a história da música brasileira, mas não foi nem de longe como a que eu dei sobre o Manuel Bandeira de tão pensativo sobre o fim que eu estava. Era uma quinta-feira e eu partiria na segunda. Depois da palestra, o pessoal do ILP me convidou pra uma despedida no Western Wings. Na sexta, fomos ao Museo del Castillo à tarde e à noite fizemos uma festinha no apartamento onde eu morava. Eu, Manuel, Karol, Daniel (namorado da Karol) e mais dois amigos deles bebemos, rimos e nos despedimos com promessas de nos encontrarmos de novo um dia em algum lugar do mundo. E eu tomei isso como uma promessa séria. Karol e Manuel me proporcionaram a sensação de família que, apesar de todo esforço da minha mãe, eu nunca tive. Finalmente, segunda-feira, dia 14 de maio, fui ao aeroporto. No longo caminho desde onde eu morava até lá, o nó na garganta foi aumentando por deixar pra trás essa montanha que me fez tão feliz e que serviu de moldura pra tudo que eu vivi lá.

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Escrito por Filipe Teixeira

Escritor amador e ansioso profissional.