Tempo, tempo, mano velho… – Parte 1

8 de março de 2012 | Escrito por Filipe Teixeira | Diário de viagem, Oreo - Eu na Colômbia

Faz mais de vinte dias que não escrevo aqui. O tempo foi ficando curto, curto… mas hoje decidi resumir quase dois meses de Medellín, porque, se não, eu perco as coisas, como diria a Amanda Gomes – que será a primeira presidente do Brasil não demagógica, e escolherá a Manuela Napoleão como ministra da Educação. Nesse meio tempo, descobri onde se escuta música decente em bares decentes (aqueles do copo sujo), mudei de casa, me perdi, voltei a escrever – até em espanhol – retomei minha rotina de ir ao cinema, tive umas crises de depressão, dei uma palestra sobre Manuel Bandeira, comecei a dar aulas particulares e conheci o Parque Arví, que é o Parque do Cocó multiplicado por quinze (e isso não é um exagero). Em Fortaleza, pouco antes de vir pra cá, minha rotina estava tão corrida quanto à de hoje, mas aqui tem vantagens pontuais: 1. moro a 10 minutos (de ônibus) do trabalho, ao contrário dos 50 minutos (de carro) que eu perdia em Fortaleza; 2. não morro de calor todos os dias; 3. meus alunos realmente querem escutar o que eu tenho a dizer; 4. ninguém me pergunta todos os dias por que não tiro a barba; e 5. quando o Curíntia perde, ninguém tira onda.

Underground

tempo

Conheci uma moça chamada Diana Carolina Toro Castillo. (Esses sobrenomes são tão fortes!) E ela me mostrou alguns lugares decentes para se divertir aqui. Lugares em que você gasta pouco e sai embriagado o suficiente pra não ter vergonha de dançar a música dos Ursinhos Carinhosos. Conheci La Villa, que é uma praça onde se reúnem pessoas que querem se autoafirmar usando roupas excêntricas, como cartolas, sobretudos e meias-calças de cores acintosas. Mas tem duas vantagens (que são três) em relação ao mainstream do Parque Lleras: a primeira é que a cerveja é barata, a segunda é que os bares ao redor tocam rock e a terceira é que tem umas carrocinhas de cachorro quente (perros calientes) que vendem uns sanduíches muito baratos que de tão grandes são suficientes pra alimentar o Iêmen inteiro.

Muda, que, Quando a Gente Muda, o Mundo Muda com a Gente

Saí da Casa Trainee e agora estou morando com a Karol e com seu irmão, Manuel, que são a gentileza personificada. Sabe quando você é tão bem tratado que tem vergonha? Pois é. O apartamento onde moramos fica muito perto do trabalho e tenho um quarto só pra mim, além de pagar menos. Mas o melhor é que é divertido. Muito divertido. Além disso, tenho que falar espanhol, pois eles são colombianos e não falam português. Aprendi a lavar roupa (o que se resume a apertar botões e esperar a lavadora tocar uma musiquinha) e todos os dias escuto o sonoro “¡Caballero!” do porteiro antes de sair pra trabalhar.

Não Vá se Perder por Aí

Ando meio quarteirão até o ponto de ônibus, que é em qualquer lugar, embora em algumas ruas e avenidas haja paradas específicas. Aqui há uma empresa chamada Coonatra e duas das linhas de ônibus dessa empresa são o Circular Coonatra 300 e o Circular Coonatra 301. Para ir ao trabalho, devo pegar o 300, mas o que eu fiz no primeiro dia? Peguei o 301 e aí, em certo momento, me toquei que tinha pegado o ônibus errado e que estava oficialmente perdido. Ainda não tinha comprado celular, então não tinha como avisar as pessoas do fato. Mas pensei: este é um ônibus circular, e o princípio das coisas que se movem em círculo é voltar para o mesmo ponto, já que “todo círculo é uma reta sem ambição” (Millôr Fernandes). Foi o que aconteceu, só que uma hora e meia depois. Mas o pior foi que, na manhã seguinte, peguei, DE NOVO, o 301! Mas desci antes de ficar muito longe e peguei um táxi. Depois disso nunca mais errei.

Las Putas Mueren Solas

Aprendi já há algum tempo que a arte é a melhor forma de canalizar tais dores. Por isso, depois de uma segunda-feira tensa e pensativa, resultado de um diálogo difícil via Facebook, escrevi isso:

LAS PUTAS MUEREN SOLAS

Mi corazón es una puta

que cuando se enamora

mata sus ojos para el mundo.

Pero la pasión termina

y el mundo que despreciaste

ya no te quiere más.

Mi corazón morirá como una puta:

recuerdos de todas las noches

que llenan su futuro en la soledad.

Mas isso passou.

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Escrito por Filipe Teixeira

Escritor amador e ansioso profissional.