Medellín, 3 de janeiro, 12°

12 de janeiro de 2012 | Escrito por Filipe Teixeira | Diário de viagem, Oreo - Eu na Colômbia

Quando eu digo que troquei o dinheiro e esperei a Karol ir me buscar, parece que foi fácil. Mas não foi, só queria terminar logo o post anterior. Depois de passar pela Imigração, fui a uma casa de câmbio ainda antes de entrar efetivamente no aeroporto, mas não aceitavam real brasileiro, e o atendente me indicou uma que havia no segundo piso. Muito simples. Sim, muito simples quando há elevadores ou escadas rolantes. Mas Murphy é um cara muito atento (e tem passaporte e visto), então não havia nada disso, só uma escada tradicional, então lá vou eu com minha mala de dezesseis quilos, degrau por degrau, até o segundo piso. Troquei o dinheiro, não sem quase enlouquecer a atendente com tantos “Como?”, porque o espanhol parecia norueguês pra mim, além do fato de todos em Medellín falarem em fast forward.

La Tarjeta Telefónica

O próximo passo seria comprar um cartão telefônico. Mas como se diz cartão telefônico em espanhol? Sentei e procurei no dicionário. Treinei um pouco “Tienes tarjeta telefónica?”, mas claro que havia uma especificação e lá vou eu de novo: “Como?”. Por fim comprei um cartão da Movistar por 5 mil pesos, algo como R$4,80, e fui ao telefone público, mas o esquema aqui é diferente: o telefone funciona com moedas. E a essa altura, 5 mil pesos eram uma fortuna pra mim, porque o Banco do Brasil bloqueou meu Visa Electron e meu dinheiro estava (e ainda está) lá, preso no banco. Acabei comprando um minuto (200 pesos) no celular na mesma lojinha onde havia comprado o cartão (que servia pra pôr minutos em um celular com chip da Movistar, o qual a moça tentou me vender por um preço que não lembro qual era, mas lembro que estava fora das minhas condições financeiras naquele momento). Com esse minuto, liguei pra Karol. Eram duas da tarde, e ela me disse que chegaria uma hora depois.

A Nuvem

Na verdade ela chegou quase duas horas depois, mas dois fatores contribuíram para isso: a chuva e a distância, porque o aeroporto fica fora da cidade, a uma hora de carro. Enquanto ela não chegava, tentei entrar na internet, mas, mais uma vez, precisava de uma senha, e não queria, de jeito nenhum, guardar o laptop, andar com a mala, perguntar a senha, voltar com a mala, tirar o laptop, conectar… Preferi ler um livro do Manuel Bandeira que havia trazido. Li meia página. Jamais conseguiria me concentrar. Fiquei observando as pessoas e ouvindo a chuva e as decolagens (dando graças por não estar dentro daqueles aviões). Fiquei deprimido, confesso. Bateu aquela sensação de o-que-é-que-eu-tô-fazendo-aqui? Mas quando a Karol chegou, me senti mais seguro. Pus o Peixe Babel no ouvido e comecei a usar todo o inglês que aprendi com os Beatles e com Chandler, Monica, Ross, Rachel, Joey e Phoebe. Liguei pra casa por 300 pesos (R$ 0,30 aproximadamente) o minuto e então fomos até o carro, no qual nos esperava a Diana Monsalve. Pouco depois de sairmos do aeroporto, entramos em uma nuvem, fazia muito frio e chovia. Aí você pensa: que deprimente. Aí eu respondo seu pensamento: você não deve morar em Fortaleza. Um termômetro na rodovia marcava 12°. Não poderia haver boas-vindas melhores para mim.

La Casa Trainee

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Uma hora mais tarde, chegamos à Trainee House – ou Casa Trainee. Não havia nenhum dos intercambistas na casa, pois todos estavam em seus respectivos trabalhos. Doña Marina, a proprietária, nos recebeu, e me ofereceu o jantar. Imagine um Yakisoba. Agora troque o macarrão por arroz integral. Havia alguns pimentões, mas eu os afastei devidamente da comida de verdade. Estava com muita fome, mas pimentão não. Nunca. É uma casa muito bonita – e grande – e estava toda decorada com motivos natalinos. Após o jantar, Karol e Diana foram embora. Mas, antes disso, chegaram alguns intercambistas: a Naomi (morava na Bélgica, mas é francesa, filha de uma russa com um japonês – ela é quase a ONU em si própria); o Steve (americano), o Eun (sul-coreano); a Rem (filipina); e o Luka (brasileiro de Minas Gerais). Fomos a um restaurante e lá provei Aguila, a primeira cerveja em terras paisas. Descapitalizado que estava, fiquei apenas olhando as pessoas comendo. E a Naomi come seguindo aqueles preceitos de etiqueta. É o tipo da pessoa que come macarrão com a colher apoiando o movimento do garfo. Eu tenho vergonha de comer perto dela, eu me sinto o Donkey Kong perto dela quando ela está comendo.

O Sono dos Justos

Nesta noite dormi como uma criança – daquelas que dormem muito. Apaguei a luz do quarto e se evidenciaram várias estrelas fluorescentes, ou fosforescentes, no teto – estrelas que o Gladson entenderia como portais. Dormi profundamente, afinal desde 30 de dezembro que eu não dormia direito. Na noite de Reveillon, ninguém dorme, principalmente quando se tem um voo às 4h25 da madrugada (que atrasou uma hora); a primeira noite em Brasília eu não dormi porque joguei Civilization até 4h da manhã e também porque o ar-condicionado do hotel fazia tanto barulho quanto uma Belina velha. Na noite seguinte fui a uma festa e fiquei com medo de dormir e não conseguir acordar a tempo para ir ao aeroporto, pois o voo sairia às 6h41. Então eu tinha muito sono acumulado. Pela manhã, conheci a Anna, uma intercambista alemã que desmontou o estereótipo que eu tinha de um alemão. Ela é a doçura em pessoa e passa longe da frieza pela qual os alemães são conhecidos.

Globalização

Na mesma manhã, fui com a Laura Fontalvo, a filha da dona da casa, ao supermercado para comprar coisas como pasta de dente, sabonete, shampoo e condicionador para que finalmente eu pudesse tomar um banho decente depois de tantos dias só fingindo. Foi então que eu percebi o verdadeiro significado de globalização. Rexona, Protex, Pantene, Ace, Nestlé, Coca-Cola, tudo lá, como se fosse em um supermercado brasileiro e imagino que em qualquer outra parte do mundo não seja tão diferente. Era meio-dia, voltei para a Casa Trainee, pois a Karol havia me convidado para almoçar em sua casa um prato típico colombiano.

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Escrito por Filipe Teixeira

Escritor amador e ansioso profissional.