Diversão é uma palavra perigosa

29 de janeiro de 2012 | Escrito por Filipe Teixeira | Diário de viagem, Oreo - Eu na Colômbia

Eu acho que diversão é uma palavra perigosa. Com esse pretexto, o de se divertir, você pode chegar a lugares nunca dantes imaginados, nem por você nem pelas pessoas que lhe respeitam. Eu posso passar parte da noite de sábado lendo as tirinhas do Hagar e me sentir realizado, ou sentar na mesa de um bar, tomar umas quatro cervejas e pronto, volto pra casa alegre e satisfeito. Mas estava aqui havia duas semanas, então decidi dar uma chance à noite de Medellín e confiei minha diversão aos meus colegas de intercâmbio.

Jardín Botánico

palavra perigosa

À tarde, fomos ao Jardín Botánico de Medellín e depois ao Parque de los Deseos, em que há um telão onde são exibidos filmes – assim, em praça pública – aos sábados (e acho que às sextas também). Nesse dia descobri que o locutor do metrô é o Barry White. Quando ele diz “Próxima estación, Exposiciones”, rola uma tensão sexual entre os passageiros. Então entra uma voz meio Angélica que diz: Next Stop, Exposiciones. E nesse momento eu rio sozinho lembrando do Fábio Porchat.

A Maior Qualidade de um Homem É Saber a Hora de Parar

Quando eu jogava War todos os dias na casa da Érica, eu aprendi isso. Se você tem seis exércitos, joga três contra um em Valdivostok (ou na Capadócia) e perde até ficar um contra um, significa que você é um tolo movido pela emoção que não sabe a hora de parar, respirar fundo, ignorar os insultos de “medroso” e “covarde” e esperar a próxima rodada. E era isso que eu deveria ter feito nesse sábado. Eu deveria ter me contentado com a diversão light de um jardim botânico, um chá gelado e um filme em praça pública (embora o protagonista fosse The Rock). Mas não, eu fui pra balada.

Vem Cá, Vergonha, Você Não Tem Vergonha Não, Hein?

Sim, essa é a palavra, balada. Maldita hora em que eu quis ser sociável. Isso não dá certo. Fomos a um lugar chamado La Strada. Imagine um shopping, agora substitua as lojas por bares: La Strada. Nesse lugar estavam reunidos todos os aspectos que me afastariam de um lugar. Eu naquele lugar significa o que o Dr. Brown chamaria de um paradoxo que causaria uma ruptura no continuum espaço-temporal. O bar que escolheram dentre a vastidão de opções tinha gelo seco, uma iluminação noir (com o perdão de Humphrey Bogart), e uns lasers que se faziam evidentes quando passavam pelo gelo seco, que era lançado periodicamente pelo DJ. Isso, inclusive, era o que ele fazia de melhor, porque a função básica dele, que é escolher músicas, ele desempenhou de maneira pífia. É o típico lugar para o qual as pessoas vão pra beber e dançar. Beber tudo bem, mas quando uma long neck custa 5 mil pesos (R$ 4,80), o que lhe resta é dançar. É nessa parte que você ri de mim. As colunas que sustentam a ponte da Barra do Ceará dançam melhor que eu. Pediram uma garrafa de Aguardiente Antioqueño, que, em resumo, é a bebida que você compra quando não tem grana pra comprar algo civilizado. Comprei uma cerveja pra servir de tira-gosto e decidi contar os minutos até as pessoas se convencerem de que deveríamos sair dali.

E Piorou

Saímos de La Strada e fomos ao Parque Lleras. Pra quem é de Fortaleza, o Parque Lleras é uma mistura das boates em torno do Dragão do Mar com os bares da rua do Fafi, só que em tamanho extra large. São dezenas de opções de bares e boates. Como se eu considerasse a possibilidade de entrar numa boate. Mas as pessoas queriam, e eu, querendo ser sociável novamente, entrei na onda. E na boate. Essa noite foi uma sequência de decisões equivocadas, principalmente porque a trilha sonora foi recheada por reggaeton, que, no frigir dos ovos, é o responsável pelo decréscimo do número de leitores funcionais na América Central, no Caribe e em parte da Cordilheira dos Andes. Mas eu sobrevivi. Reuni forças e peguei um táxi de volta pra casa convencido de que eu descobriria a cena underground de Medellín.

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Escrito por Filipe Teixeira

Escritor amador e ansioso profissional.