Aqui não tem Nescau

17 de janeiro de 2012 | Escrito por Filipe Teixeira | Diário de viagem, Oreo - Eu na Colômbia

Minha primeira sexta-feira em Medellín foi quase completamente em frente ao computador. Saí só pra almoçar em um supermercado aqui perto. A moça do supermercado me ofereceu sopa de feijão. Eu disse sim. Mas na verdade a sopa de feijão daqui é o que nós conhecemos como caldo de feijão, as diferenças básicas são duas: a) ela vem em um prato separado e b) são feijões mutantes, do tamanho de uma fava, mas com gosto de feijão. E um almoço em que você se empanturra custa no máximo uns 7 mil pesos (R$6,80), com o Nestea (porque agora eu tomo chá gelado) incluso. Comida é muito barata aqui.

Mas cadê minha comida?

Tendo almoçado tarde, quando o jantar estava na mesa – às 18h -, não tinha fome ainda. E as pessoas foram chegando e comendo. O fato é que alguém jantou duas vezes e eu fiquei momentaneamente sem comida. O problema foi explicar isso pra Doña Marina no meu espanhol sofrível. No fim, eu jantei, mas foi tenso porque o sotaque das pessoas da Casa Trainee é meio agressivo. Sempre acho que a Doña Marina, a Doña Maria (a housekeeper) e a Laura, quando conversam entre si, estão brigando. E as três falando comigo, ao mesmo tempo, sem eu entender palavra alguma, foi meio intimidador. Mas é só o sotaque mesmo. Do nada elas começaram a rir – e eu também, pra garantir.

A Banana

No sábado, a Karol e seu irmão, Manuel, me chamaram para almoçar. E lá estava a sopa, mas não de feijão, e sim de… bem, não sei muito bem de que era. Algumas comidas eu prefiro só comer. Isso não significa que não parecia boa. Eu só não consegui distinguir o sabor. E só depois o almoço em si. O problema é que, depois da sopa, você está já cheio. A comida não difere muito da comida do Brasil, mas tem umas particularidades, como a banana frita: é rara a refeição que não tem banana frita. Mas é um frito depois de cozido, não sei explicar muito bem, só sei que me acostumei, o que não significa que eu goste e vá sentir falta.

E o Nescau?

Depois do almoço fomos ao supermercado. A Karol e o Manuel são pessoas agradabilíssimas. (Se o Gladson tivesse o poder de aparecer aqui num pop-up, ele ia dizer que eu estava exagerando e ainda diria com ironia: “As pessoas mais agradáveis do Universo”). Então você tira o exagero e imagina duas pessoas agradáveis, simplesmente. São tão agradáveis que eu tive paciência de fazer compras no supermercado com eles, o que normalmente não acontece. Eu perguntei a eles se conheciam brigadeiro, embora eu já soubesse que eles não conheciam. Então eu disse que sabia fazer (mesmo só tendo feito uma vez na vida). Eu disse, com aquela cara de isso-é-muito-corriqueiro-na-minha-vida que eu só precisava de leite condensado e Nescau. Nescau?, perguntou o Manuel, e então deu um vazio na minha alma só de imaginar a possibilidade de uma vida sem Nescau. Gladson, e as 7 vitaminas? E a energia? E as madrugadas? E as crianças? Pois não tem Nescau aqui. O que mais se aproxima é Nesquik. Mas eu me recuso. Disse, contrariado, que o Manuel comprasse o que mais lhes agradasse e resignei-me com o fato.

El Pueblito Paisa

não tem nescau

Depois das compras, fomos ao Pueblito Paisa, uma réplica de um povoado típico da região, com a igrejinha, a barbearia, a farmácia etc. De lá, é possível ver parte da cidade. É uma vista belíssima, principalmente quando anoitece, quando a montanha é pontilhada pelas luzes das casas. Fazia frio demais, embora o Manuel e a Karol insistissem que não. Eles não sabem o que é calor, então eu os perdoo. Mas eu os convido a passar uma semana de dezembro em Fortaleza pra eles saberem o que é calor e darem valor ao frio dessa cidade. Sentamos em umas mesinhas com vista pra cidade e compramos umas Club Colombias pra regar a conversa, que foi muito divertida. Depois de falar sobre leite de vaca, ovos de codorna, Skype e israelenses na Holanda, deixamos o Pueblito Paisa em direção a sua casa e eu em direção ao último dos meus quase 40 dias de férias.

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Escrito por Filipe Teixeira

Escritor amador e ansioso profissional.